A Bula do Meu Desejo

Luana Santahelena

Os médicos da alma dizem:

beba água, respire fundo,

medite sete minutos antes do caos.

Evite o drama, o açúcar,

as madrugadas que cheiram a poesia vencida.

 

Mas meu corpo não lê bulas —

ele prefere o improviso do coração.

Toma vinho como quem reza,

dança fora do compasso,

e ri alto das contraindicações.

 

Há gurus que juram conhecer o caminho:

manhãs frias, sucos verdes,

alma alinhada com o relógio.

Mas a minha desperta de madrugada

e se confessa à lua:

“Sou feita de excesso e encantamento,

não de regras nem planilhas.”

 

A vida, quando muito certa,

adoece de tédio.

E eu — que nasci propensa ao imprevisto —

prefiro a febre das vontades

ao remédio das prudências.

 

Talvez a maior saúde

seja essa desobediência luminosa:

viver como quem saboreia o proibido,

amar como quem esquece o tempo,

e sorrir, sem culpa,

por ser feliz…

mesmo quando é contraindicado.

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 6 de novembro de 2025 08:22
  • Comentário do autor sobre o poema: Na farmácia da vida, a única receita que sigo é a do meu humor duvidoso. Não me venha com a planilha de "dez passos para o sucesso"; meu sucesso é sobreviver à segunda-feira. O mapa mais útil é aquele rabiscado no guardanapo de bar, onde o bem-estar está em mandar as regras para o "próximo lote". Meu único compromisso é com o meu caos delicioso, pois a felicidade é o alto risco de ser imperfeitamente eu, vivendo fora do prazo de validade de qualquer conselho.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 6
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta
Comentários +

Comentários1

  • Arthur Santos

    Versos que encantam a alma.



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