Os médicos da alma dizem:
beba água, respire fundo,
medite sete minutos antes do caos.
Evite o drama, o açúcar,
as madrugadas que cheiram a poesia vencida.
Mas meu corpo não lê bulas —
ele prefere o improviso do coração.
Toma vinho como quem reza,
dança fora do compasso,
e ri alto das contraindicações.
Há gurus que juram conhecer o caminho:
manhãs frias, sucos verdes,
alma alinhada com o relógio.
Mas a minha desperta de madrugada
e se confessa à lua:
“Sou feita de excesso e encantamento,
não de regras nem planilhas.”
A vida, quando muito certa,
adoece de tédio.
E eu — que nasci propensa ao imprevisto —
prefiro a febre das vontades
ao remédio das prudências.
Talvez a maior saúde
seja essa desobediência luminosa:
viver como quem saboreia o proibido,
amar como quem esquece o tempo,
e sorrir, sem culpa,
por ser feliz…
mesmo quando é contraindicado.