Luana Santahelena

A Bula do Meu Desejo

Os médicos da alma dizem:

beba água, respire fundo,

medite sete minutos antes do caos.

Evite o drama, o açúcar,

as madrugadas que cheiram a poesia vencida.

 

Mas meu corpo não lê bulas —

ele prefere o improviso do coração.

Toma vinho como quem reza,

dança fora do compasso,

e ri alto das contraindicações.

 

Há gurus que juram conhecer o caminho:

manhãs frias, sucos verdes,

alma alinhada com o relógio.

Mas a minha desperta de madrugada

e se confessa à lua:

“Sou feita de excesso e encantamento,

não de regras nem planilhas.”

 

A vida, quando muito certa,

adoece de tédio.

E eu — que nasci propensa ao imprevisto —

prefiro a febre das vontades

ao remédio das prudências.

 

Talvez a maior saúde

seja essa desobediência luminosa:

viver como quem saboreia o proibido,

amar como quem esquece o tempo,

e sorrir, sem culpa,

por ser feliz…

mesmo quando é contraindicado.