A pior saudade não grita —
sussurra dentro da ossada dos dias,
um eco que não encontra paredes,
porque a casa que a abrigava virou vento.
É como tentar abraçar a fumaça
de uma vela que se apagou sozinha,
ou escrever uma carta
para um endereço que o tempo derrubou.
Há saudades que esperam retorno;
esta não.
Ela se alimenta do próprio vazio,
rumina lembranças até o pó
e se deita, faminta, no colo do nunca mais.
Recordar é tocar um retrato
que já não reconhece o rosto:
a cor fugiu, o olhar se desfez,
mas a moldura insiste em doer.
O coração, esse arqueólogo teimoso,
escava ruínas que o amor deixou,
procura vestígios de uma voz
que o silêncio guardou.
Ah, se ao menos houvesse corpo,
ou sombra, ou qualquer sopro de “ainda”!
Mas resta só o nada vestido de memória,
um perfume sem flor,
um nome que já não responde.
A pior saudade é essa:
a que sobrevive ao motivo.
Um luto que esqueceu o morto,
um fogo que queima sem lenha,
um amor que persiste —
feito eco, dentro do tempo que ficou.
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                        Autor:    
     
	Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
 Offline) - Publicado: 2 de novembro de 2025 12:08
 - Comentário do autor sobre o poema: A pior saudade é aquela que não podemos matar, porque o que a causou já virou pó de tempo. É querer regar uma flor que o vento levou, é procurar o som de uma voz que o silêncio guardou. Mas, se olharmos com calma, veremos: a ausência também floresce. Ela ensina o amor a existir sem corpo — e nos lembra que alguns encontros continuam, mesmo depois do fim.
 - Categoria: Não classificado
 - Visualizações: 16
 - Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Arthur Santos, Sezar Kosta
 

 Offline)
			
Comentários2
Muito bom poema.
Gostei do seu poema. Realmente a saudade aperta principalmente neste dia. Boa noite poetisa.
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