Entre uma Página e Outra

Luana Santahelena

Se o cotidiano fosse um livro,

eu estaria lendo a mesma página há anos —

com anotações nas margens,

marcas de café,

e um suspiro dobrando o canto.

 

Às vezes, penso em virar a folha.

Mas a próxima parece tão em branco

que o silêncio dela me assusta.

Então, fico.

Releio o parágrafo onde esqueço as chaves,

onde o sol entra pela janela

e finge ser novidade.

 

Há um certo conforto na repetição —

como se o tempo me ninasse

com a mesma canção de sempre,

um pouco desafinada,

mas íntima.

 

Talvez viver seja isso:

aprender a reler

com outros olhos,

até descobrir que o mesmo texto

mudou de significado

enquanto eu mudava de alma.

 

E quem sabe — um dia —

quando o vento virar a página por distração,

eu sorria,

e continue a história

sem saber onde parei.

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 1 de novembro de 2025 13:00
  • Comentário do autor sobre o poema: Se o cotidiano fosse um livro, eu estaria lendo a mesma página há anos. No entanto, percebo que cada releitura traz uma palavra que antes me escapava, um detalhe escondido na margem, um silêncio que agora soa diferente. A página é a mesma, mas eu não sou. E talvez seja nisso que reside a beleza: descobrir que até na repetição a vida encontra novas formas de florescer.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 25
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta, Roberto, Arthur Santos, Melancolia...


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