Luana Santahelena

Entre uma Página e Outra

Se o cotidiano fosse um livro,

eu estaria lendo a mesma página há anos —

com anotações nas margens,

marcas de café,

e um suspiro dobrando o canto.

 

Às vezes, penso em virar a folha.

Mas a próxima parece tão em branco

que o silêncio dela me assusta.

Então, fico.

Releio o parágrafo onde esqueço as chaves,

onde o sol entra pela janela

e finge ser novidade.

 

Há um certo conforto na repetição —

como se o tempo me ninasse

com a mesma canção de sempre,

um pouco desafinada,

mas íntima.

 

Talvez viver seja isso:

aprender a reler

com outros olhos,

até descobrir que o mesmo texto

mudou de significado

enquanto eu mudava de alma.

 

E quem sabe — um dia —

quando o vento virar a página por distração,

eu sorria,

e continue a história

sem saber onde parei.