NA SALA DE CONCERTOS
na sala de concertos ouviam-se os primeiros acordes.
as notas circulavam entre gente comum e lordes,
com igual sem cerimónia,
despreocupadamente e sem parcimónia.
notas soltas,
livres de escoltas,
sem constrangimentos.
afinar os instrumentos.
ouviu-se o som estridente e brilhante do violino
ecoando em desatino,
logo seguido pela viola D'arco com a sua voz doce
mas calou-se,
abafada pelo som grave do contrabaixo
como que a responder cabisbaixo,
de cá para lá, de lá para cá,
montado na sua clave de fá
e bem assente no seu espigão.
dialogavam,
argumentavam,
primeiro um, depois o outro, em franca discussão.
o violoncelo meteu-se na conversa
de maneira perversa
e tornou a questão mais controversa.
estavam nisto,
quando de rompante aconteceu o imprevisto.
autoritariamente fez-se ouvir o som do piano
querendo impor-se como o soberano,
com um comportamento até um pouco...
hitleriano
mas durou pouco o seu desígnio,
a harpa com quarenta e sete cordas
e meios tons cromáticos,
quebrou-lhe o domínio
e os seus ares aristocráticos.
os sons indisciplinados invadiam a sala.
queixou-se um velhote ao meu lado
já a começar a ficar incomodado:
deus me valha,
tanto discute esta canalha.
os instrumentos ganhavam vida,
estavam de cabeça perdida,
uns até já começavam a soprar,
não havia ordem nem pauta,
só queriam mesmo afinar.
sem avisar, entrou a flauta
triunfante como um hino,
a dar suavidade ao violino.
o clarinete não ficou mudo
e fez-se ouvir de grave a super agudo.
cavalgava quase a trote,
quando com personalidade,
entrou grave,, o fagote,
de SI BEMOL GRAVE a RÉ
mas nada conseguiu, porque o oboé
com notas graves, ricas
e agudas penetrantes,
em poucos instantes
tornou-os a todos insignificantes.
pensava-se que ficava por aqui a confusão
mas não,
ainda havia mais.
faltavam os metais.
para aumentar as instaladas confusões,
chegou o trompete com os seus dourados pistões
mas foi logo confrontado com o trombone de vara
que o enfrentou cara a cara.
com toda a circunstância e pompa,
meteu-se à bruta a trompa
com a sua campânula enorme,
quase desconforme,
a pretender ser diferente
e a querer fazer-se passar por gente.
mas claro, teve forte oposição.
entrou em contramão
com a tuba e todos os seus graus cromáticos
que logo a atacou em termos democráticos.
pachorrentamente e sem paciência,
com toda a sua experiência,
impôs-se o velho saxofone,
numa voz que parecia um megafone.
a sua potência sonora
parecia ser arrasadora.
iria pôr um ponto final
no sonoro bacanal.
mas ainda não.
para mal dos nossos pecados
e dos nossos ouvidos já cansados,
faltava entrar na discussão,
a percussão.
o xilofone discutiu com o piano
quase mano a mano,
a caixa de rufo, os tímpanos o bombo e a pandeireta,
numa sonora conversa da treta
e com estrondosas extravagâncias
fizeram ouvir as suas ressonâncias,
o gongo, o carrilhão e os pratos
que até aqui assistiam estupefactos
a estes preliminares musicais,
produziram os seus efeitos especiais.
finalmente... como que a pôr um fim...
ouve-se do folclórico triangulo,
um tímido...
PLIM!
seguiu-se um silêncio sepulcral,
surreal,
só interrompido pelo acomodar
nas cadeiras.
acabaram as chinfrineiras.
o concerto, vai começar!
-
Autor:
Arthur Santos (Pseudónimo (
Online) - Publicado: 1 de novembro de 2025 09:14
- Comentário do autor sobre o poema: Este poema pretende imaginar o comportamento dos instrumentos de uma orquestra numa sala de concertos e a reacção do público antres do início do concerto.
- Categoria: Humor
- Visualizações: 7

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