O dia em que perdi o som
Abuso é uma palavra curta demais
para um trauma que rasga tão profundamente.
Eu sabia que o que tentavam fazer comigo era errado.
Mas não sabia o que dizer.
Não havia palavra, só o medo,
e o medo fala em silêncio.
Foi num domingo.
Na volta pra casa, o homem fazia brincadeiras,
essas bobas, que adultos acham inofensivas.
Quando a rua ficou sem luz,
ele apertou minha mão.
Ficou pra trás.
E ali —
me mostrou o que uma criança nunca deveria conhecer.
Ninguém viu.
Ninguém ouviu.
Nem as filhas. Nem a esposa.
Ninguém.
E eu segui.
Calei.
Fui pra casa, lavei as mãos,
e continuei sendo a mesma menina,
só que não era mais.
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Autor:
Jessica F (
Offline)
- Publicado: 20 de outubro de 2025 02:22
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 7
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia..., JT.
Comentários2
Seu poema é um grito silencioso que atravessa a pele. A forma como você transforma a dor em palavras é profundamente comovente e necessária. O silêncio imposto pelo medo, a solidão da criança ferida e a violência disfarçada de “brincadeira inocente” são retratados com uma honestidade brutal. Cada verso ecoa a realidade de tantas vozes caladas — e isso é poderoso.
Obrigado por ter coragem de escrever o que muitos ainda não conseguem dizer. Que essas palavras encontrem escuta, acolhimento e, sobretudo, justiça. Você não está sozinha.
Obrigada!!!
Obrigado pela amizade, amei, como amo vos ler.
Lembrei me que alguém disse isso, mas nem fui eu.
Queira ler e interpretar o que esta escrito, mas não quem escreveu.
Essa reflexão e bem forte, pois o dito nos da conteúdo forte para varias interpretações.
Por isso que sou fã, de que o poeta sege um fingidor.
Falar da dor alheia, pois da nossa seria sofrer duas vezes.
Vida longa, Menina e amiga poetisa..
JT
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