O dia em que perdi o som
Abuso é uma palavra curta demais
para um trauma que rasga tão profundamente.
Eu sabia que o que tentavam fazer comigo era errado.
Mas não sabia o que dizer.
Não havia palavra, só o medo,
e o medo fala em silêncio.
Foi num domingo.
Na volta pra casa, o homem fazia brincadeiras,
essas bobas, que adultos acham inofensivas.
Quando a rua ficou sem luz,
ele apertou minha mão.
Ficou pra trás.
E ali —
me mostrou o que uma criança nunca deveria conhecer.
Ninguém viu.
Ninguém ouviu.
Nem as filhas. Nem a esposa.
Ninguém.
E eu segui.
Calei.
Fui pra casa, lavei as mãos,
e continuei sendo a mesma menina,
só que não era mais.
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Autor:
Jessica F (
Offline) - Publicado: 20 de outubro de 2025 02:22
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 21
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia...

Offline)
Comentários1
Seu poema é um grito silencioso que atravessa a pele. A forma como você transforma a dor em palavras é profundamente comovente e necessária. O silêncio imposto pelo medo, a solidão da criança ferida e a violência disfarçada de “brincadeira inocente” são retratados com uma honestidade brutal. Cada verso ecoa a realidade de tantas vozes caladas — e isso é poderoso.
Obrigado por ter coragem de escrever o que muitos ainda não conseguem dizer. Que essas palavras encontrem escuta, acolhimento e, sobretudo, justiça. Você não está sozinha.
Obrigada!!!
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