O coitado

D. WILLIAN

Dois seres se amaram — ou talvez apenas um compreendesse, de fato, o que é amar.
Mas o que mudaria, afinal, se o amor de um só bastasse para sustentar o engano de dois?

Pobre ser, entregue a um sentimento que julgava sublime, mas que o mundo lhe revelou fútil, efêmero, ilusório.
Assim, despido da ingenuidade, contemplou o abismo de sua própria crença — e nele afundou, destruído.

Há inúmeras formas de pronunciar o amor.
Cada língua o veste com uma máscara distinta, e ainda assim, nenhuma o contém.
O espanhol diz “te quiero” — “eu te quero” —
mas não “te amo”.
E, no entanto, querer é amar; pois quem ama deseja, e quem deseja já se perde no amor.

Foi então que o jovem, desfeito de sonhos, enfim compreendeu:
nunca fora amado.
Era troféu, instrumento, refúgio temporário de uma carência alheia.
Um corpo sobre o qual se projetou a sombra de um talvez.

E ao perceber-se apenas lembrança em vida, decidiu tornar-se silêncio em morte.
Num último gesto de devoção, ofereceu sua própria existência como tributo à ilusão que o alimentara.
Assim morreu — não por amor, mas pela recusa em aceitar o vazio que o sucedeu.

Um coitado.

 

  • Autor: D. WILLIAN (Offline Offline)
  • Publicado: 19 de outubro de 2025 22:17
  • Comentário do autor sobre o poema: O poema expressa uma desilusão do amor idealizado. Não é apenas sobre sofrer pelo outro— sofre por perceber que o amor pode der uma mentira que criamos para dar sentido a um vazio. \r\n O amor é como um espelho que revela a própria solidão, e a morte como última tentativa de dar significo àquilo que nao o tem.
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 5


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