Dois seres se amaram — ou talvez apenas um compreendesse, de fato, o que é amar.
Mas o que mudaria, afinal, se o amor de um só bastasse para sustentar o engano de dois?
Pobre ser, entregue a um sentimento que julgava sublime, mas que o mundo lhe revelou fútil, efêmero, ilusório.
Assim, despido da ingenuidade, contemplou o abismo de sua própria crença — e nele afundou, destruído.
Há inúmeras formas de pronunciar o amor.
Cada língua o veste com uma máscara distinta, e ainda assim, nenhuma o contém.
O espanhol diz “te quiero” — “eu te quero” —
mas não “te amo”.
E, no entanto, querer é amar; pois quem ama deseja, e quem deseja já se perde no amor.
Foi então que o jovem, desfeito de sonhos, enfim compreendeu:
nunca fora amado.
Era troféu, instrumento, refúgio temporário de uma carência alheia.
Um corpo sobre o qual se projetou a sombra de um talvez.
E ao perceber-se apenas lembrança em vida, decidiu tornar-se silêncio em morte.
Num último gesto de devoção, ofereceu sua própria existência como tributo à ilusão que o alimentara.
Assim morreu — não por amor, mas pela recusa em aceitar o vazio que o sucedeu.
Um coitado.