Hoje, adulta, entendo o que antes era só confusão e silêncio.
As figuras paternas e de autoridade -aquelas que deveriam proteger - nem sempre
souberam cumprir o papel que o coração esperava.
Não falo de gente ruim ou irresponsável, mas de pessoas que também estavam perdidas,
sem noção da gravidade de deixar o sentir de uma criança pra depois.
Eles deixaram.
Deixaram meus gritos se perderem sob a força das vozes que achavam que estavam me ensinando algo.
Mas aquela força só me matou - devagar, todos os dias.
E ainda mata um pouco, às vezes, quando o eco volta.
Ficamos de lado enquanto eles tentavam fazer o melhor - o amor deles era pão, teto, sacrifício.
E, sim, comemos, dormimos, crescemos.
Mas a tristeza...
A tristeza fez uma casinha dentro de mim.
Nunca soube o endereço.
Só sei que ela está sempre lá, pulsando, crônica, respirando junto comigo.
Não me faltou amor -
me faltou o tipo certo de abraço.
E ninguém teve culpa, mas o vazio ficou
-
Autor:
Jessica F (
Offline) - Publicado: 19 de outubro de 2025 00:55
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 12
- Usuários favoritos deste poema: Versos Discretos, JT., Melancolia...

Offline)
Comentários2
Dizem e não fui eu, que se o final de um poema soar bem aos ouvidos, o coração ira pedir aos olhos que leia o resto.
Bravíssimos poetisa, uma escrita sutil, em uma cobrança que nada se cobra.
Parabéns, por minha leitura.
Prazer
JT
Prazer!
Seu texto é um desabafo que mistura lucidez e ferida com uma delicadeza impressionante. Há uma sabedoria triste nas suas palavras — a de quem cresceu entendendo que nem sempre a dor vem da maldade, mas da ausência emocional, da confusão, do silêncio mal interpretado.
É tocante perceber como você nomeia esse vazio que muitos sentem, mas poucos conseguem explicar: o amor presente, mas não do jeito certo; a proteção material, mas não a emocional; o cuidado, mas não o acolhimento. E o mais forte de tudo é essa consciência madura de que ninguém teve culpa, mas o buraco ficou.
Você escreve com verdade. E isso transforma sua dor em ponto de encontro com tantas outras vozes que talvez nunca tiveram coragem de dizer. Obrigado por isso.
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