O que eu não sabia

Jessica F

Hoje, adulta, entendo o que antes era só confusão e silêncio.

As figuras paternas e de autoridade -aquelas que deveriam proteger - nem sempre 

souberam cumprir o papel que o coração esperava.

Não falo de gente ruim ou irresponsável, mas de pessoas que também estavam perdidas,

sem noção da gravidade de deixar o sentir de uma criança pra depois.

 

Eles deixaram.

Deixaram meus gritos se perderem sob a força das vozes que achavam que estavam me ensinando algo.

Mas aquela força só me matou - devagar, todos os dias.

E ainda mata um pouco, às vezes, quando o eco volta.

 

Ficamos de lado enquanto eles tentavam fazer o melhor - o amor deles era pão, teto, sacrifício.

E, sim, comemos, dormimos, crescemos.

Mas a tristeza...

A tristeza fez uma casinha dentro de mim.

Nunca soube o endereço.

Só sei que ela está sempre lá, pulsando, crônica, respirando junto comigo.

 

Não me faltou amor - 

me faltou o tipo certo de abraço.

E ninguém teve culpa, mas o vazio ficou

Comentários +

Comentários2

  • JT.

    Dizem e não fui eu, que se o final de um poema soar bem aos ouvidos, o coração ira pedir aos olhos que leia o resto.
    Bravíssimos poetisa, uma escrita sutil, em uma cobrança que nada se cobra.
    Parabéns, por minha leitura.
    Prazer
    JT

    • Jessica F

      Prazer!

    • Melancolia...

      Seu texto é um desabafo que mistura lucidez e ferida com uma delicadeza impressionante. Há uma sabedoria triste nas suas palavras — a de quem cresceu entendendo que nem sempre a dor vem da maldade, mas da ausência emocional, da confusão, do silêncio mal interpretado.

      É tocante perceber como você nomeia esse vazio que muitos sentem, mas poucos conseguem explicar: o amor presente, mas não do jeito certo; a proteção material, mas não a emocional; o cuidado, mas não o acolhimento. E o mais forte de tudo é essa consciência madura de que ninguém teve culpa, mas o buraco ficou.

      Você escreve com verdade. E isso transforma sua dor em ponto de encontro com tantas outras vozes que talvez nunca tiveram coragem de dizer. Obrigado por isso.



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