Hoje, adulta, entendo o que antes era só confusão e silêncio.
As figuras paternas e de autoridade -aquelas que deveriam proteger - nem sempre
souberam cumprir o papel que o coração esperava.
Não falo de gente ruim ou irresponsável, mas de pessoas que também estavam perdidas,
sem noção da gravidade de deixar o sentir de uma criança pra depois.
Eles deixaram.
Deixaram meus gritos se perderem sob a força das vozes que achavam que estavam me ensinando algo.
Mas aquela força só me matou - devagar, todos os dias.
E ainda mata um pouco, às vezes, quando o eco volta.
Ficamos de lado enquanto eles tentavam fazer o melhor - o amor deles era pão, teto, sacrifício.
E, sim, comemos, dormimos, crescemos.
Mas a tristeza...
A tristeza fez uma casinha dentro de mim.
Nunca soube o endereço.
Só sei que ela está sempre lá, pulsando, crônica, respirando junto comigo.
Não me faltou amor -
me faltou o tipo certo de abraço.
E ninguém teve culpa, mas o vazio ficou