Sangue

Isabella Vitória

O mesmo sangue quente
Que ferve com tremor o meu corpo
E que me impulsiona a existir,
Você tem.

 

Eu tenho a tua pele clara,
O jeito covarde de ferir.
Você sabe mais do vazio,
Mas do vazio eu também aprendi...
Com você.

 

Que fosse o cálculo da genética;
Que fosse só a tua beleza assemelhada a mim.
Mas não foi.
Foi pior.
Foram teus demônios
Que moraram em mim;
Os esverdeados de nossos olhos
Tão límpidos,
Acalentados por uma devasta solidão;
Foi dessa dor que você aprendeu a beber,
Um sabor amargo,
Que me acostumei assim.

 

Agora você sela teus lábios junto às minhas feridas
E me faz acreditar que o amor não dói,
Mas às vezes,
O nosso dói.

  • Autor: 333 (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 17 de outubro de 2025 14:14
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 19
  • Usuários favoritos deste poema: SADE, Melancolia..., Versos Discretos
Comentários +

Comentários3

  • SADE

    Que poema intenso e visceral! Ele pulsa uma verdade crua e bela — uma confissão entrelaçada entre herança, dor e amor.
    Há algo profundamente magnético na forma como o eu lírico reconhece o outro em si, como se falasse de uma simbiose que vai além da carne e do sangue — é alma refletida em alma, luz e sombra coexistindo.
    A construção é elegante, equilibrando doçura e brutalidade emocional. O final, “E me faz acreditar que o amor não dói, / Mas às vezes, / O nosso dói”, é um
    Um poema maduro, sensível e dolorosamente belo ...

  • Melancolia...

    O poema retrata uma relação intensa e dolorosa, marcada por heranças emocionais profundas. O eu lírico reconhece não só semelhanças físicas com o outro, mas também a transmissão de dores, traumas e solidão. Apesar de haver amor, ele vem misturado com feridas e aprendizados amargos. É um reflexo de como os laços afetivos podem ser belos e, ao mesmo tempo, profundamente dolorosos.

  • Versos Discretos

    Seu poema, é de uma sinceridade visceral e tocante, explorando com maestria a complexidade da herança emocional e da dor que une os sujeitos. A força da obra reside em sua capacidade de ir além da mera semelhança física e mergulhar no que é mais íntimo—os "demônios" e a "devasta solidão" que ligam as duas existências. A imagem dos "esverdeados de nossos olhos / Tão límpidos, / Acalentados por uma devasta solidão" é belíssima e desoladora, capturando a transparência da dor que é passada e absorvida.

    É um poema corajoso que transforma a dor compartilhada em uma conexão profunda e inevitável. O final, com a ressalva "Mas às vezes, / O nosso dói," é um fecho agridoce e realista que nega a idealização do amor, mas aceita a complexidade e o custo do vínculo. Parabéns pela potência e honestidade dos seus versos.



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