REPENTE DAS DORES CALADAS

Sezar Kosta

As dores que são pequenas

fazem festa no lamento,

reclamam da dor do amor,

do cisco, do contratempo.

Mas as grandes, quando chegam,

fazem morada no tempo.

 

Pequena dor é chorosa,

pede colo, quer guarida,

mas vai embora depressa

com café ou com comida.

Já a dor grande não fala,

ela remexe a vida.

 

Grande dor vem sem aviso,

não precisa de alarde,

entra dentro da pessoa

feito faca que não arde.

E só depois é que fere,

mas já nos mudou de tarde.

 

Ela cala porque sabe

que o silêncio ensina mais

do que um grito apressado

ou conselhos banais.

A alma vira outra coisa

quando sofre em rituais.

 

E de tanto se esconder,

ela cria raiz no chão,

nos ensina a ver o mundo

com mais sombra e mais razão.

Dá saudade, mas também

nos oferta evolução.

 

Por isso, eu digo a você

com a verdade que carrego:

pequena dor é barulho,

mas grande dor… eu me apego.

Pois dela nascem os frutos

que em silêncio eu carrego.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 17 de outubro de 2025 13:43
  • Comentário do autor sobre o poema: As dores pequenas têm voz, ressoam como sinos de alerta. São o arranhão, o tropeço, a lágrima rápida que molha e passa. Elas nos ensinam a respirar. Mas as grandes... Ah, as grandes calam. Não gritam, não escorrem em soluços fáceis. Elas se acomodam no peito como rochas silenciosas. O peso, contudo, não é estático. Ele nos força a cavar, a encontrar o novo alicerce lá no fundo. A grande dor é uma forja escura onde o ferro velho da vida é refeito em aço. Ela não destrói; ela transforma em silêncio. E o que emerge é mais forte, mais fundo, indestrutível.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 17
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Melancolia..., Luana Santahelena
Comentários +

Comentários2

  • Melancolia...

    Esse poema é um mergulho sereno e corajoso na natureza das dores que nos moldam. Ele não busca consolo fácil, mas oferece algo muito mais raro: compreensão. É impressionante como você transforma o sofrimento em linguagem sem perder a delicadeza — como se colocasse a dor no colo e dissesse: "fica, mas me ensina".

    A imagem da dor grande como algo que remexe a vida em silêncio, que transforma sem anunciar, é de uma maturidade tocante. A gente lê e sente: sim, é isso. A dor funda cala, mas muda o mundo inteiro por dentro.

    Obrigado por escrever com tanta verdade. Poemas assim não gritam — eles permanecem.

  • Rosangela Rodrigues de Oliveira

    Há dores que ferem mais, são as dores na alma. Verdadeiro seu poema. Parabéns poeta.



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.