As dores que são pequenas
fazem festa no lamento,
reclamam da dor do amor,
do cisco, do contratempo.
Mas as grandes, quando chegam,
fazem morada no tempo.
Pequena dor é chorosa,
pede colo, quer guarida,
mas vai embora depressa
com café ou com comida.
Já a dor grande não fala,
ela remexe a vida.
Grande dor vem sem aviso,
não precisa de alarde,
entra dentro da pessoa
feito faca que não arde.
E só depois é que fere,
mas já nos mudou de tarde.
Ela cala porque sabe
que o silêncio ensina mais
do que um grito apressado
ou conselhos banais.
A alma vira outra coisa
quando sofre em rituais.
E de tanto se esconder,
ela cria raiz no chão,
nos ensina a ver o mundo
com mais sombra e mais razão.
Dá saudade, mas também
nos oferta evolução.
Por isso, eu digo a você
com a verdade que carrego:
pequena dor é barulho,
mas grande dor… eu me apego.
Pois dela nascem os frutos
que em silêncio eu carrego.