Sezar Kosta

REPENTE DAS DORES CALADAS

As dores que são pequenas

fazem festa no lamento,

reclamam da dor do amor,

do cisco, do contratempo.

Mas as grandes, quando chegam,

fazem morada no tempo.

 

Pequena dor é chorosa,

pede colo, quer guarida,

mas vai embora depressa

com café ou com comida.

Já a dor grande não fala,

ela remexe a vida.

 

Grande dor vem sem aviso,

não precisa de alarde,

entra dentro da pessoa

feito faca que não arde.

E só depois é que fere,

mas já nos mudou de tarde.

 

Ela cala porque sabe

que o silêncio ensina mais

do que um grito apressado

ou conselhos banais.

A alma vira outra coisa

quando sofre em rituais.

 

E de tanto se esconder,

ela cria raiz no chão,

nos ensina a ver o mundo

com mais sombra e mais razão.

Dá saudade, mas também

nos oferta evolução.

 

Por isso, eu digo a você

com a verdade que carrego:

pequena dor é barulho,

mas grande dor… eu me apego.

Pois dela nascem os frutos

que em silêncio eu carrego.