Eu gritei
Eu gritei.
Gritei até perder o ar.
Gritei tentando acordar quem já tinha ido embora por dentro.
Gritei pra não desaparecer.
Mas ele não ouviu.
Ou fingiu não ouvir — o que é pior.
Prometeu amor eterno.
Jurou que eu era o que ele sempre quis.
Mas o que ele queria mesmo era o espelho.
Queria se ver bom, justo, perfeito.
E eu era só o cenário da mentira que ele contava sobre si mesmo.
A família dele me destruiu com classe.
Não precisaram gritar.
Fizeram piada.
Fizeram pouco.
Fingiram educação enquanto me rasgavam por dentro.
A falta de amor deles era tão fria
que queimava.
E ele…
ele olhava.
Em silêncio.
Como se eu merecesse.
Como se fosse justo.
Eu amei.
Amei como quem acredita que o amor muda o mundo.
Amei até o último fio de esperança.
Mas o amor não é remédio pra quem mente.
Não cura quem escolhe ferir.
Hoje, eles estão bem.
Rindo.
Vivendo.
Limpando a consciência com o meu nome esquecido.
E eu?
Eu continuo aqui,
tentando recolher o que restou da mulher que acreditava em promessas.
Eu não fui perfeita.
Mas fui verdadeira.
E por mais que doa admitir…
ele nunca foi.
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Autor:
Jessica F (
Offline)
- Publicado: 16 de outubro de 2025 11:02
- Comentário do autor sobre o poema: Esse poema faz parte de uma série de poemas, são todos sobre minha dor e sobre conseguir colocar elas para fora.
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 9
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia...
Comentários2
Esse texto reflete uma dor profunda e um sentimento de desilusão que vem de um amor que nunca foi genuíno. A autora se entrega a um relacionamento que, no fim, foi marcado pela manipulação e pela falta de respeito — tanto do parceiro quanto de sua família. A ideia de que o amor não é capaz de mudar aqueles que escolhem mentir e ferir é um ponto doloroso, mas poderoso, trazendo à tona a realidade de que o amor verdadeiro exige reciprocidade, sinceridade e respeito, algo que o "ele" do texto jamais foi capaz de oferecer. A busca por ser amada, a luta para manter a esperança, a dor da perda e a sensação de que tudo foi em vão tornam a reflexão ainda mais humana. E a última linha, em que a autora se dá conta de sua própria verdade e da falsidade do outro, é um poderoso ato de autodescoberta, onde ela reconhece sua própria dignidade — talvez o único remédio para a dor que restou.
Sim o único remédio. Obrigada!!!
A poesia é o que resta para todos nós... ainda bem! ainda bem que escrevestes! ainda bem que ainda estás aqui!
Verdade!! Obrigada!!!
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