Eu Gritei

Jessica F

Eu gritei

 

Eu gritei.

Gritei até perder o ar.

Gritei tentando acordar quem já tinha ido embora por dentro.

Gritei pra não desaparecer.

Mas ele não ouviu.

Ou fingiu não ouvir — o que é pior.

 

Prometeu amor eterno.

Jurou que eu era o que ele sempre quis.

Mas o que ele queria mesmo era o espelho.

Queria se ver bom, justo, perfeito.

E eu era só o cenário da mentira que ele contava sobre si mesmo.

 

A família dele me destruiu com classe.

Não precisaram gritar.

Fizeram piada.

Fizeram pouco.

Fingiram educação enquanto me rasgavam por dentro.

A falta de amor deles era tão fria

que queimava.

 

E ele…

ele olhava.

Em silêncio.

Como se eu merecesse.

Como se fosse justo.

 

Eu amei.

Amei como quem acredita que o amor muda o mundo.

Amei até o último fio de esperança.

Mas o amor não é remédio pra quem mente.

Não cura quem escolhe ferir.

 

Hoje, eles estão bem.

Rindo.

Vivendo.

Limpando a consciência com o meu nome esquecido.

 

E eu?

Eu continuo aqui,

tentando recolher o que restou da mulher que acreditava em promessas.

 

Eu não fui perfeita.

Mas fui verdadeira.

E por mais que doa admitir…

ele nunca foi.

  • Autor: Jessica F (Offline Offline)
  • Publicado: 16 de outubro de 2025 11:02
  • Comentário do autor sobre o poema: Esse poema faz parte de uma série de poemas, são todos sobre minha dor e sobre conseguir colocar elas para fora.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 9
  • Usuários favoritos deste poema: Melancolia...
Comentários +

Comentários2

  • Melancolia...

    Esse texto reflete uma dor profunda e um sentimento de desilusão que vem de um amor que nunca foi genuíno. A autora se entrega a um relacionamento que, no fim, foi marcado pela manipulação e pela falta de respeito — tanto do parceiro quanto de sua família. A ideia de que o amor não é capaz de mudar aqueles que escolhem mentir e ferir é um ponto doloroso, mas poderoso, trazendo à tona a realidade de que o amor verdadeiro exige reciprocidade, sinceridade e respeito, algo que o "ele" do texto jamais foi capaz de oferecer. A busca por ser amada, a luta para manter a esperança, a dor da perda e a sensação de que tudo foi em vão tornam a reflexão ainda mais humana. E a última linha, em que a autora se dá conta de sua própria verdade e da falsidade do outro, é um poderoso ato de autodescoberta, onde ela reconhece sua própria dignidade — talvez o único remédio para a dor que restou.

    • Jessica F

      Sim o único remédio. Obrigada!!!

    • Isabella Vitória

      A poesia é o que resta para todos nós... ainda bem! ainda bem que escrevestes! ainda bem que ainda estás aqui!

      • Jessica F

        Verdade!! Obrigada!!!



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