Eu gritei
Eu gritei.
Gritei até perder o ar.
Gritei tentando acordar quem já tinha ido embora por dentro.
Gritei pra não desaparecer.
Mas ele não ouviu.
Ou fingiu não ouvir — o que é pior.
Prometeu amor eterno.
Jurou que eu era o que ele sempre quis.
Mas o que ele queria mesmo era o espelho.
Queria se ver bom, justo, perfeito.
E eu era só o cenário da mentira que ele contava sobre si mesmo.
A família dele me destruiu com classe.
Não precisaram gritar.
Fizeram piada.
Fizeram pouco.
Fingiram educação enquanto me rasgavam por dentro.
A falta de amor deles era tão fria
que queimava.
E ele…
ele olhava.
Em silêncio.
Como se eu merecesse.
Como se fosse justo.
Eu amei.
Amei como quem acredita que o amor muda o mundo.
Amei até o último fio de esperança.
Mas o amor não é remédio pra quem mente.
Não cura quem escolhe ferir.
Hoje, eles estão bem.
Rindo.
Vivendo.
Limpando a consciência com o meu nome esquecido.
E eu?
Eu continuo aqui,
tentando recolher o que restou da mulher que acreditava em promessas.
Eu não fui perfeita.
Mas fui verdadeira.
E por mais que doa admitir…
ele nunca foi.