Sonhar é bom —
é como se deitar na rede das nuvens
com um livro que nunca termina.
Amar, ah…
amar é tropeçar graciosa
numa poça de poesia.
E esperança, minha cara,
esperança é aquele fiapo de sol
que insiste em atravessar o quarto
mesmo quando a persiana jura
que hoje não.
Mas cá entre nós,
sem desejo
ninguém levanta da cama.
Nem o corpo, nem a alma, nem o gato.
(Nem o despertador se atreve a insistir.)
O desejo é quem acende a lâmpada,
prepara o café,
e nos convence — com voz de vendedora de loja cara —
de que vale a pena experimentar
mais um dia.
Ele é a tomada
que liga a vida no modo felicidade,
a senha do Wi-Fi da existência,
a brasa discreta no fundo da xícara
quando o mundo parece morno demais.
Desejo não é só paixão
(e nem precisa rimar com exagero).
Às vezes, é só querer usar meias coloridas
ou descobrir se o padeiro sorri pra todo mundo
ou só pra você.
É pequeno, sim.
Mas é teimoso.
Enquanto a esperança se ajoelha e reza,
o desejo vai de pantufas até a porta
e gira a maçaneta com um “vamos ver no que dá”.
Já tentei viver sem ele —
fui estátua, sofá, objeto de decoração interna.
Fiquei bonita, mas sem propósito.
E convenhamos:
ninguém quer ser um enfeite em sua própria biografia.
Então hoje,
ligo meu fio na vontade
(seja ela de mudar o mundo
ou só comprar um croissant).
E deixo que me leve.
Me empurre.
Me invente.
Porque a vida, no fundo,
é esse eterno levantar da cama
com desejo nos olhos
e um poema pela metade
na ponta da língua.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 14 de outubro de 2025 21:03
- Comentário do autor sobre o poema: Sonhar é bom, amar melhor ainda, e ter esperança é quase milagre. Mas cá entre nós: sem desejo ninguém levanta da cama. Ele é a tomada que liga a vida no modo felicidade.
- Categoria: Não classificado
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