ONDE A CHAMA DO AMOR APRENDEU A FICAR

Sezar Kosta

O amor verdadeiro

se revela quando o encanto adormece

e a presença permanece acordada.

 

Não nasce em altares, mas em cozinhas:

no vapor que sobe da panela,

no avental manchado que abraça,

na mão que interrompe o cansaço para ajudar,

na voz que se recolhe para ouvir.

 

É fogo de lareira:

não ruge, mas resiste;

não queima, mas aquece,

alimentado pela lenha miúda dos gestos.

 

É o olhar que perdoa antes do pedido,

o cobertor estendido antes do frio,

a história repetida que se escuta outra vez

porque, às vezes, vale mais a música da voz

do que o sentido das palavras.

 

Muitos procuram o amor como ao sol do meio-dia.

Mas ele chega como manhã:

nasce manso, acende aos poucos,

e, quando o brilho se vai, continua luz.

 

Não promete eternidade;

ergue-a, lenta, sobre a rocha da paciência,

como quem assenta tijolos sem alarde,

um por dia,

com as palmas cheias de cal e constância.

 

É pão repartido,

água partilhada,

silêncio que compreende.

É o divino de avental,

a eternidade vestida de rotina.

 

Saberás que o encontraste quando, no cansaço,

algo dentro de ti ainda disser: estou aqui —

e a chaleira, fiel, começar a cantar.

 

Porque o amor verdadeiro não grita “para sempre”:

ele aprende a ficar.

E fica,

até que o tempo, encostado na porta,

desista de ir embora.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 14 de outubro de 2025 15:10
  • Comentário do autor sobre o poema: O amor é experiência, não teoria. Começa com a paixão intensa e se firma como uma brasa quente. Sua maior sabedoria é encontrar a paz no refúgio do outro.
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 4
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Luana Santahelena, elfrans silva
Comentários +

Comentários1

  • Luana Santahelena

    A autenticidade da sua voz poética é inspiradora.



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.