Quando criança,
Com aqueles meus olhos furta-cor,
Olhava, em ócio,
Para cima,
Para ver o telhado,
Com sua malha de caibros
Sustentando as telhas
Muito mais antigas do que eu.
Por entre o madeiramento
Via-se os rastros dos cupins;
As teias desmanchadas pelo tempo;
Os primódios de vespeiros abandonados;
Os ninhos secos das maritacas.
Era como ler uma história,
Daquelas que só se vê nos livros empoeirados
Com aquelas folhas amareladas;
Com aquela capa de couro;
Sem títulos, 
Com linguagem-enigma.
Coisa que só crianças vê.
Mas os homens, 
Com suas mãos calosas e seus olhos secos
Irritados com o caos do telhado
Cobrem-no, com argamassa e cal.
Fazem o teto
Tão liso
Linear
Simétrico
Retilíneo
Cúbico
Regular
Correto
Estável
Previsível
Pálido
Límpido
Monocromático
Sem insetos 
Sem ninhos
Sem caibros
Somente o teto
Com aqueles meus olhos brancos
Pelos quais efundiam 
insetos ninhos e caibros.
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                        Autor:    
     
	Ultracrepidário (
 Offline) - Publicado: 4 de outubro de 2025 18:25
 - Categoria: Não classificado
 - Visualizações: 9
 - Usuários favoritos deste poema: Shmuel
 

 Offline)
			
Comentários1
Gosto de telhados de telhas marrons . Também observo o madeiramento. E gostei da tua poesia ecoando na minha cabeça.
Abraços!
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