Manual de Sobrevivência para Almas Gêmeas Imperfeitas

Luana Santahelena

Chega de clichês de cinema, meu caro —

não tem trilha sonora que salve

quando você canta Legião

e eu só queria silêncio e chá.

 

A grande aventura, hoje,

é não brigar por causa do modo avião

ou da sua mania de pausar o filme

pra explicar a cena.

(Spoiler: eu entendi.)

 

A alma gêmea, se existir,

não é aquela que termina tuas frases,

mas a que respeita

quando você esquece as palavras

e precisa de cinco minutos no banheiro

pra lembrar quem é.

 

A memória, por aqui,

tem cheiro de pizza de ontem

e molho escorrido na camisa.

Tem o eco da nossa risada nervosa

diante da fatura do cartão,

como se rir fosse desconto.

(Spoiler: não é.)

 

O amor mora, veja só,

na divisão quase sagrada das tarefas:

você cuida das plantas,

eu finjo que sei lavar louça.

E se um dia trocamos de função,

viramos poema —

ou manual de instruções,

com páginas faltando.

 

Tem também a guerra fria do controle remoto,

cada um com sua estratégia sutil:

eu com o olhar fixo e passivo-agressivo,

você com a tática do "só ver um episódio",

como se fosse possível.

 

No fundo, é um caos que faz sentido.

Como aqueles quebra-cabeças

em que a peça errada encaixa

e ninguém tem coragem de corrigir.

 

E talvez, só talvez,

o amor verdadeiro

não seja aquele que completa,

mas o que aguenta.

Com charme.

Com falhas.

E um pouco de comédia romântica

no final da segunda-feira.

 

(Spoiler final:

a gente sobreviveu mais um mês.

E ainda sobrou pizza.)

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 30 de setembro de 2025 16:27
  • Comentário do autor sobre o poema: Chega de clichês de cinema, meu caro. A grande aventura é achar a alma gêmea que não te julga pelo seu gosto musical questionável. A memória é o cheiro de pizza de ontem e o pavor mútuo da próxima fatura. O amor se esconde na divisão justa das tarefas e na guerra silenciosa pelo controle remoto. É um caos que faz sentido.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 5
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta


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