Aquarela da Ausência

Yves de Sá

Profetizavam os bardos sobre a demência do exílio,

E em mim, a máxima se fez carne e verbo.

Em teu desterro, de mim mesmo me perdi,

Um devaneio manifesto, sem artifícios ou segredos.

 

Permaneci estático, uma alma em suspensão,

Qual nau sem bússola, entregue ao ermo.

Não há nexo a que me apegue, nem busco a razão;

Talvez não a queira, pois nestes dias recentes,

Apenas segui, um autômato em seu termo.

 

No peito, um hiato côncavo, um vácuo,

Tua presença fez-se réstia, um rastro de saudade.

Confesso a inépcia, o meu pavor a este trato,

A esta nostalgia que irrompe sem alarde.

Contudo, senti.

 

E anseio por ter-te novamente,

Em cada alvorada, em cada dia que floresce.

Somente tu, a transformar o sol poente

Na promessa de uma paz que me enternece.

 

Não indago a natureza deste sentimento,

Se um anelo profundo ou um eco do que foi.

O fato é que a vida, neste teu firmamento,

Ganha a íris e a vividez de uma aquarela sob o sol.

  • Autor: Yves de Sá (Offline Offline)
  • Publicado: 30 de setembro de 2025 00:15
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 2


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