Ecos da pele (Paródia de "Canção do exílio" Gonçalves Dias.)

Evelyn Alencar

Ecos da Pele

Evelyn Alencar

 

Minha pele tem feridas

Onde chora a agressão;

As dores que aqui latejam

Não latejam sem razão.

 

Nossa cor tem mais tristeza,

Nossas mortes, mais abusos;

Nossos traumas, mais racismo,

Nossas vidas, mais intrusos.

 

Em pensar juntinhas à noite,

Mais machismo encontro no lar;

Minha cor tem grande dor,

Que não cessa de pesar.

 

Minha pele é minha beleza,

Que às vezes não sei enxergar;

Ao ficar sozinha à noite,

Só me resta chorar;

Minha cor é minha cura,

Mesmo quando vem a dor me tocar.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que a ferida venha fechar;

Sem que eu chore sem motivos,

Sem que eu possa respirar;

Sem que eu ainda avise à minha cor

Que ela não precisa se culpar.

 

 

  • Autor: E.A (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 5 de setembro de 2025 14:51
  • Comentário do autor sobre o poema: O poema retrata a vivência da mulher negra, marcada por dor, racismo e machismo, mas também por resistência, busca de cura e afirmação da identidade. Ele funciona como uma paródia de “Canção do Exílio” porque, enquanto Gonçalves Dias fala da saudade da pátria, aqui a “pátria” é a pele e a cor — lugar de dor, mas também de orgulho.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 5
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