E mesma que eu venha desbulhar, 
palavras e palavras... 
Ainda tenho nas minhas ideias aquela velha reflexão...
Projetei.
Não te vi, cega de expectativa,
Desenhei meu desejo sobre a melancolia do teu ser.
Mapeei cada traço que não existia,
                        [mas que aparentava]
Cada gesto que imaginei,
cada palavra do meu anseio que quis ouvir.
O mal da projeção é sua gênese tola.
É filha da carência, órfã de verdade.
É lançar no outro o peso do que nos falta,
e depois cobrar a dívida de uma quimera.
É um autoengano com testemunha.
É a confissão do próprio despreparo.
Amar o que se inventa, não o que se encontra...
                                        [nua]
Que despreparo, esse ato de projetar...
É vestir um manequim com as roupas de um sonho
E se enfurecer quando o boneco de madeira
não esquenta o abraço e não fala de amor.
Projetei. 
E no fim, o que amei
foi apenas o reflexo distorcido
da minha própria necessidade,
esbatido na parede vazia do seu peito.
Despreparado é aquele que, sem se conhecer,
projeta no outro a completude que não tem.
E culpa o espelho por refletir a sua própria solidão.
E mesmo assim, continuei, projetei. 
Insisti no erro mais uma vez...
E a falha não estava na tela,
mas nas minhas mãos trêmulas que segurava o projetor.
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                        Autor:    
     
	Anna Gonçalves (Pseudónimo (
 Offline) - Publicado: 3 de setembro de 2025 16:24
 - Comentário do autor sobre o poema: Mesmo que aqui eu fale de projeção, eu escrevi como uma terceira pessoa vendo de fora essa projeção. Fala sobre a projeção como um ato de autoengano e despreparo emocional de ambas as partes,. Porém, a pessoa que, movida por sua própria carência ou desejo, cria uma imagem idealizada de outra, atribuindo a ela traços, gestos e palavras que não são reais, pode ser momentânea, mas não reais. Quando falo o "mal" está no fato de que, ao projetar, a pessoa ama uma ilusão que ela mesma criou, e não o ser real que está à sua frente. Isso é um sinal de despreparo (imaturidade emocional) porque é uma fuga de si mesmo e uma cobrança injusta do outro, que inevitavelmente falhará em corresponder à fantasia (aqui já é a pessoa que foi projetada). No final, a culpa pelo fracasso não é da "tela" (a outra pessoa), mas de quem forçou uma projeção que não pertencia a ela e que não foi sincera nem com seus sentimentos e nem responsável afetivamente com o sentimento do outro. Ambos projetando um ao outro a sua fantasia do perfeito. Obs: É apenas uma reflexão, isso não consiste em verdades pessoais... Mas uma análise e observação sobre o projetar o que seria ideal na outra pessoa sem se quer ao menos olhar quem a pessoa é de verdade.
 - Categoria: Reflexão
 - Visualizações: 6
 

 Offline)
			
Comentários1
Um bonito poema!
Abraços!
Obrigada, Shmuel. Abraços...
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