E mesma que eu venha desbulhar,
palavras e palavras...
Ainda tenho nas minhas ideias aquela velha reflexão...
Projetei.
Não te vi, cega de expectativa,
Desenhei meu desejo sobre o vazio do teu ser.
Mapeei cada traço que não existia,
[mas que aparentava]
Cada gesto que imaginei,
Cada palavra do meu anseio quis ouvir.
O mal da projeção é sua gênese tola.
É filha da carência, órfã de verdade.
É lançar no outro o peso do que nos falta,
e depois cobrar a dívida de uma quimera.
É um autoengano com testemunha.
É a confissão da própria despreparação.
Amar o que se inventa, não o que se encontra...
[despida]
Que despreparo, esse ato de projetar...
É vestir um manequim com as roupas de um sonho
E se enfurecer quando o boneco de madeira
não esquenta o abraço, não fala de amor.
Projetei.
E no fim, o que amei
Foi apenas o reflexo distorcido
Da minha própria necessidade,
Esbatido na parede vazia do seu peito.
Despreparado é aquele que, sem se conhecer,
projeta no outro a completude que não tem.
E culpa o espelho por refletir a sua própria solidão.
E mesmo assim, continuei, projetei.
Errei mais uma vez..
E a falha não estava na tela,
mas nas minhas mãos trêmulas que segurava o projetor.