o pulso da terra

Wander Motta

 

a terra pulsa

   devagar
   profundo
   dentro

 não faz barulho
 não grita
 não chama

 é sopro
 é sombra
 é som sem som

 a cada
  vinte e seis segundos
 algo vibra

 um músculo
 no escuro
 bate

   bate
     bate

 no peito do universo
 sem face
 sem pressa
 sem fim

 lá em cima
 a luz se dobra
 em linhas finas
 e dias que não doem

 lá vivem os grandes
  luminosos
  leves
 sem dúvida
 sem morte
 sem nome

 e tudo é sim
 e tudo é sempre
 e tudo é pão

 aqui embaixo
 nós
  com nome
  com medo
  com perguntas

 rastejamos
 furamos
 nomeamos

 o que é esse pulso?
 por que ele bate?
 por quem?

 mas a terra
 não responde

 só pulsa
 só vive
 só repete

 a cada
  vinte e seis segundos

 um tambor esquecido
 bate

   bate
     bate

 como se deus sonhasse
 com a gente
 sem querer

  • Autor: Wander Motta (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de setembro de 2025 14:36
  • Comentário do autor sobre o poema: Essa poesia foi inspirada pela reportagem "O pulso de 26 segundos da Terra: há mais de 60 anos, enigma sísmico ainda intriga a ciência", publicada em O Globo Digital, em 29 de agosto de 2025. A matéria aborda o fenômeno sísmico periódico que, a cada 26 segundos, faz a Terra vibrar de maneira misteriosa: um eco profuddo que segue sem explicação definitiva pela ciência.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 2


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