O NOME QUE DEI À TEMPESTADE

Sezar Kosta

Ela gritava com os olhos.

Não usava palavras —

só aquele silêncio cortante

que deixava a sala menor.

 

Naquela noite,

a chuva fazia mais barulho que nós dois.

E ainda assim,

nenhum de nós teve coragem de ir embora.

 

Ela passou por mim

como quem esbarra em lembrança:

devagar, mas fundo.

Tinha cheiro de casa antiga

e um jeito de quem aprendeu a se proteger

com as próprias cicatrizes.

 

Eu também não era inteiro.

Tinha falhas na estrutura,

frestas por onde o passado ainda entrava.

Mas algo nela me fazia ficar,

mesmo quando a porta estava escancarada.

 

Amar não foi flor,

foi árvore com raiz em terra seca.

Foi poda, espera,

e vento demais balançando os galhos.

 

A gente não falava de futuro,

mas dividia o presente com olhos atentos,

como quem cuida de algo que já quase se perdeu.

 

Fiquei.

Mesmo quando doeu.

Mesmo quando ela disse que não sabia mais amar.

E no fundo, acho que nem eu sabia.

Mas fiquei.

 

Hoje, quando ela sorri

sem medo de quebrar,

entendo que amar

foi suportar a tempestade

e ainda assim escolher a varanda.

 

O nome dela ainda dói,

mas não como ferida —

como rastro de um caminho

que eu escolhi seguir

mesmo com os pés descalços.

 

Poema Homenagem ao meu amigo Melancolia e aos poetas do Mesclado "O Amor Provoca a dor Para se Tornar mais Forte?"

"

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 31 de agosto de 2025 11:50
  • Comentário do autor sobre o poema: O amor nem sempre se manifesta em gestos doces — às vezes, ele se revela nas dores partilhadas, nos silêncios suportados, nas feridas que escolhemos curar juntos. A dor, nesse contexto, não é fracasso, mas evidência de que se está tentando. Amar, afinal, é persistir mesmo quando o coração arde, porque ali há vida. As cicatrizes não nos diminuem — elas provam que ficamos.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 11
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta, elfrans silva
Comentários +

Comentários1

  • Shmuel

    Um bonito texto, caro poeta.

    Abraços



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.