Sezar Kosta

O NOME QUE DEI À TEMPESTADE

Ela gritava com os olhos.

Não usava palavras —

só aquele silêncio cortante

que deixava a sala menor.

 

Naquela noite,

a chuva fazia mais barulho que nós dois.

E ainda assim,

nenhum de nós teve coragem de ir embora.

 

Ela passou por mim

como quem esbarra em lembrança:

devagar, mas fundo.

Tinha cheiro de casa antiga

e um jeito de quem aprendeu a se proteger

com as próprias cicatrizes.

 

Eu também não era inteiro.

Tinha falhas na estrutura,

frestas por onde o passado ainda entrava.

Mas algo nela me fazia ficar,

mesmo quando a porta estava escancarada.

 

Amar não foi flor,

foi árvore com raiz em terra seca.

Foi poda, espera,

e vento demais balançando os galhos.

 

A gente não falava de futuro,

mas dividia o presente com olhos atentos,

como quem cuida de algo que já quase se perdeu.

 

Fiquei.

Mesmo quando doeu.

Mesmo quando ela disse que não sabia mais amar.

E no fundo, acho que nem eu sabia.

Mas fiquei.

 

Hoje, quando ela sorri

sem medo de quebrar,

entendo que amar

foi suportar a tempestade

e ainda assim escolher a varanda.

 

O nome dela ainda dói,

mas não como ferida —

como rastro de um caminho

que eu escolhi seguir

mesmo com os pés descalços.

 

Poema Homenagem ao meu amigo Melancolia e aos poetas do Mesclado \"O Amor Provoca a dor Para se Tornar mais Forte?\"

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