O Porto Que Deixei

Minha Caixa de Pandora

Certa vez, alguém disse:

Eu te amo.

Não termina comigo.

Deixa eu cuidar de você.

 

Mas eu não ouvi.

Talvez porque o cuidado me assustasse,

porque o apego parecia uma prisão,

porque eu ainda sangrava de feridas antigas

e não sabia onde era seguro ancorar.

 

Então, o que eu fiz?

Aceitei na minha vida

um artista da mentira.

Mentia sobre o ontem,

sobre o agora,

talvez até sobre o amor.

 

E me pergunto:

por que caí nisso?

Por que mergulhamos tão fundo

em águas que já cheiram à morte?

É ingenuidade?

É fome de carinho,

mesmo que envenenado?

 

Troquei um porto seguro

por um mar em fúria,

um abrigo real

por uma miragem.

 

Mas —

o que é a vida senão

a soma de escolhas ruins

misturadas a raros acertos?

Talvez, dessa vez,

o acerto seja o naufrágio.

 

Porque só afundando

eu posso aprender a nadar.

E só deixando de me salvar

é que finalmente aprendo

a me salvar sozinha.

  • Autor: Medusa (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 29 de agosto de 2025 07:12
  • Comentário do autor sobre o poema: Este poema nasceu do confronto entre o desejo de ser amado e o medo de ser aprisionado. É sobre as escolhas que fazemos quando ainda carregamos feridas abertas — escolhas que às vezes nos levam a ilusões, a mares revoltos, a naufrágios necessários. Escrevê-lo foi como reconhecer que até os erros podem ser professores, e que, no fim, o verdadeiro cuidado talvez seja aquele que aprendemos a oferecer a nós mesmos.
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 3


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.