Certa vez, alguém disse:
Eu te amo.
Não termina comigo.
Deixa eu cuidar de você.
Mas eu não ouvi.
Talvez porque o cuidado me assustasse,
porque o apego parecia uma prisão,
porque eu ainda sangrava de feridas antigas
e não sabia onde era seguro ancorar.
Então, o que eu fiz?
Aceitei na minha vida
um artista da mentira.
Mentia sobre o ontem,
sobre o agora,
talvez até sobre o amor.
E me pergunto:
por que caí nisso?
Por que mergulhamos tão fundo
em águas que já cheiram à morte?
É ingenuidade?
É fome de carinho,
mesmo que envenenado?
Troquei um porto seguro
por um mar em fúria,
um abrigo real
por uma miragem.
Mas —
o que é a vida senão
a soma de escolhas ruins
misturadas a raros acertos?
Talvez, dessa vez,
o acerto seja o naufrágio.
Porque só afundando
eu posso aprender a nadar.
E só deixando de me salvar
é que finalmente aprendo
a me salvar sozinha.