Às vezes,
sou uma sinfonia em dó maior — desafinada.
Outras vezes,
nem ensaio: só silencio,
e minha própria voz me dá calafrios.
Sou montanha-russa sem aviso prévio,
uma tempestade que se arrepende da chuva,
um raio que se acha fofo,
mas sabe que assusta.
Às vezes me olho no espelho e penso:
“Meu Deus, que graça nenhuma!”
Cinco minutos depois,
me ofereço pra estrelar minha própria série.
Sem roteiro. Sem audiência. Só eu.
Rio do nada,
choro do tudo.
Cumprimento o vizinho com entusiasmo falso
e cinco segundos depois
evito contato visual com a planta do corredor.
(ela também me julga, eu sei)
Tem dia que sou a rainha da autoestima:
faço amizade com o espelho.
Tem noite que acho que nem o espelho me aguenta.
Tem hora que amo todo mundo...
ou quase.
Tem minuto que quero exilar metade da humanidade
num planeta feito só de elevadores sem botão de fechar porta.
Às vezes sou popular:
mil mensagens, vinte grupos,
uma notificação que me dá esperança.
(Era promoção de almofada.)
Outras vezes me sinto
a última figurante da novela da minha vida.
Sem falas.
Sem créditos finais.
Sou contraditória de nascença,
autocontraditória por esporte.
Digo “nunca mais” com lágrimas,
e no outro dia mando emoji com coração.
Odeio errar,
mas às vezes erro bonito.
Erro com performance,
erro com legenda,
erro e depois posto:
“aprendizado do dia.”
(Às vezes aprendo mesmo.)
Me dá vontade de colo,
mas quando me abraçam, penso:
“Será que posso desabraçar sem ser rude?”
Insônia? Presente.
Sonolência? Também.
Sou 8, sou 80,
e às vezes sou só o Wi-Fi caindo no meio da emoção.
Tem dia que sinto que tudo acabou,
mas aí lembro que nem comecei direito.
Tem hora que sou de gelo,
mas basta uma música triste e
vira degelo da Antártida.
Penso demais.
Penso tanto,
que me perco dentro de mim,
e o GPS diz:
“recalculando a rota emocional.”
Sou um caos organizado por fases da lua,
um drama com trilha sonora de comédia romântica,
uma alma em reforma constante,
com placa de “Desculpe o transtorno — estou me reconstruindo.”
E o pior?
Às vezes magoo sem nem notar,
com palavras afiadinhas
que escapam do meu arsenal descontrolado.
Depois me culpo, claro.
(Com trilha sonora de piano triste ao fundo.)
No fim,
sou só essa obra inacabada,
rindo e chorando entre cafés,
tentando não assustar quem ousa me conhecer,
mas também testando se ficam mesmo assim.
Então se quiser ficar —
pise com cuidado,
mas ria alto.
O chão pode tremer,
mas às vezes,
sou um ótimo terremoto pra dançar.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 25 de agosto de 2025 21:15
- Comentário do autor sobre o poema: Sou feita de extremos. Às vezes, nem eu consigo me entender. Tem dias em que falo alto, outros em que nem suporto minha própria voz. Me acho insuportável e, logo depois, até simpática. Posso rir à toa ou me sentir incapaz de sorrir. Oscilo entre querer o mundo por perto e não suportar ninguém. Me sinto cercada de amigos, mas também posso me ver sozinha no meio da multidão. Me contradigo. O que penso hoje, talvez eu negue amanhã. Me culpo pelos erros, mas logo me perdoo quando percebo que aprendi com eles. Tem dias em que tudo parece perdido; em outros, tudo parece possível. Sou insegura e, ao mesmo tempo, inexplicavelmente forte. Sinto demais. Às vezes, até o que não deveria. E há momentos em que não sinto nada, como se eu mesma não estivesse aqui. Penso demais. Ou então não penso em nada, só existo, meio confusa, meio perdida. E continuo assim... tentando me encontrar. Não gosto de magoar ninguém — mas, infelizmente, sei que às vezes faço isso sem nem perceber. Sou feita de fases, de altos e baixos, de emoções intensas e silêncios profundos. E mesmo sem entender tudo o que se passa aqui dentro, sigo tentando. Porque, apesar de tudo, sigo sendo eu.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena
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