Luana Santahelena

Manual de Sobrevivência para Convivência (Comigo)

Às vezes,

sou uma sinfonia em dó maior — desafinada.

Outras vezes,

nem ensaio: só silencio,

e minha própria voz me dá calafrios.

 

Sou montanha-russa sem aviso prévio,

uma tempestade que se arrepende da chuva,

um raio que se acha fofo,

mas sabe que assusta.

 

Às vezes me olho no espelho e penso:

“Meu Deus, que graça nenhuma!”

Cinco minutos depois,

me ofereço pra estrelar minha própria série.

Sem roteiro. Sem audiência. Só eu.

 

Rio do nada,

choro do tudo.

Cumprimento o vizinho com entusiasmo falso

e cinco segundos depois

evito contato visual com a planta do corredor.

(ela também me julga, eu sei)

 

Tem dia que sou a rainha da autoestima:

faço amizade com o espelho.

Tem noite que acho que nem o espelho me aguenta.

Tem hora que amo todo mundo...

ou quase.

Tem minuto que quero exilar metade da humanidade

num planeta feito só de elevadores sem botão de fechar porta.

 

Às vezes sou popular:

mil mensagens, vinte grupos,

uma notificação que me dá esperança.

(Era promoção de almofada.)

Outras vezes me sinto

a última figurante da novela da minha vida.

Sem falas.

Sem créditos finais.

 

Sou contraditória de nascença,

autocontraditória por esporte.

Digo “nunca mais” com lágrimas,

e no outro dia mando emoji com coração.

 

Odeio errar,

mas às vezes erro bonito.

Erro com performance,

erro com legenda,

erro e depois posto:

“aprendizado do dia.”

(Às vezes aprendo mesmo.)

 

Me dá vontade de colo,

mas quando me abraçam, penso:

“Será que posso desabraçar sem ser rude?”

Insônia? Presente.

Sonolência? Também.

Sou 8, sou 80,

e às vezes sou só o Wi-Fi caindo no meio da emoção.

 

Tem dia que sinto que tudo acabou,

mas aí lembro que nem comecei direito.

Tem hora que sou de gelo,

mas basta uma música triste e

vira degelo da Antártida.

 

Penso demais.

Penso tanto,

que me perco dentro de mim,

e o GPS diz:

“recalculando a rota emocional.”

 

Sou um caos organizado por fases da lua,

um drama com trilha sonora de comédia romântica,

uma alma em reforma constante,

com placa de “Desculpe o transtorno — estou me reconstruindo.”

 

E o pior?

Às vezes magoo sem nem notar,

com palavras afiadinhas

que escapam do meu arsenal descontrolado.

Depois me culpo, claro.

(Com trilha sonora de piano triste ao fundo.)

 

No fim,

sou só essa obra inacabada,

rindo e chorando entre cafés,

tentando não assustar quem ousa me conhecer,

mas também testando se ficam mesmo assim.

 

Então se quiser ficar —

pise com cuidado,

mas ria alto.

O chão pode tremer,

mas às vezes,

sou um ótimo terremoto pra dançar.