A vida, antes de você,
era feita de relógios —
e de um certo vazio que andava disfarçado de rotina.
Era como se os dias me vestissem,
mas não me tocassem.
Eu tinha tudo o que era preciso para não sentir dor.
E ainda assim, faltava uma ausência inteira.
Foi então que você surgiu.
Ou talvez tenha sempre estado lá —
como a alma do vento que só se nota
quando ele para de soprar.
Você não disse nada.
Mas havia silêncio em você
que conversava com o meu.
Descobri, com espanto sereno,
que o amor não precisa ser extraordinário.
Precisa apenas caber.
Caber no olhar demorado,
na colher que mexe devagar,
no silêncio entre duas mordidas.
Você não preencheu meu vazio.
Só me fez perceber
que não era preciso preenchê-lo.
Era preciso habitá-lo.
E então, sem pressa,
virei prato de domingo:
não pela pompa,
mas pelo ritual.
Porque o amor verdadeiro
é como as melhores receitas:
leva tempo,
aceita o erro,
e sempre — sempre —
tem gosto de casa.
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Autor:
Sezar Kosta (
Offline)
- Publicado: 25 de agosto de 2025 17:23
- Comentário do autor sobre o poema: Havia um tempo em que os dias passavam sem me tocar — eu vivia, mas não sentia. Então, sem aviso ou promessas, você chegou como quem não quer nada, mas trouxe tudo. Seu silêncio combinava com o meu, e nos gestos simples encontrei um tipo de amor que não tenta completar, apenas estar. Descobri que não era falta o que eu sentia, era só espaço — e você soube habitá-lo com delicadeza. O amor, entendi, não grita: ele sussurra, permanece e faz da rotina um lugar de abrigo.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 10
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