Sezar Kosta

O AMOR QUE NÃO PRECISA DE NOME

A vida, antes de você,

era feita de relógios —

e de um certo vazio que andava disfarçado de rotina.

 

Era como se os dias me vestissem,

mas não me tocassem.

 

Eu tinha tudo o que era preciso para não sentir dor.

E ainda assim, faltava uma ausência inteira.

 

Foi então que você surgiu.

Ou talvez tenha sempre estado lá —

como a alma do vento que só se nota

quando ele para de soprar.

 

Você não disse nada.

Mas havia silêncio em você

que conversava com o meu.

 

Descobri, com espanto sereno,

que o amor não precisa ser extraordinário.

Precisa apenas caber.

 

Caber no olhar demorado,

na colher que mexe devagar,

no silêncio entre duas mordidas.

 

Você não preencheu meu vazio.

Só me fez perceber

que não era preciso preenchê-lo.

Era preciso habitá-lo.

 

E então, sem pressa,

virei prato de domingo:

não pela pompa,

mas pelo ritual.

 

Porque o amor verdadeiro

é como as melhores receitas:

leva tempo,

aceita o erro,

e sempre — sempre —

tem gosto de casa.