Ela esperava o peso,
daquela ressaca moral,
aquela areia movediça da culpa,
o lento afundar do peito.
Mas nada veio.
Cada gesto foi completo,
Corte anatômico limpo,
sem hesitação na lâmina.
E depois?
Só silêncio.
Pensei em desfecho,
em palavras redondas
que dessem sentido ao já sentido.
Mas não.
O ato foi o sentido.
E o murros em ponta de faca,
ferradura enferrujada,
história previsível.
Melhor virar a página
com os dedos intactos e limpos.
O recomeço não é um mito,
é o instante em que a faca,
antes cravada no ar,
repousa sobre a mesa
e você simplesmente
segue em frente...
Ela por sua vez, não sentiria o peso do insignificante como um inseto morto na soleira da porta, algo que se pisa sem querer, sem remorso, mas que deixa uma mancha.
E assim seguiam: ele com seu silêncio cheio de buracos e ideias,
ela com suas palavras não ditas e que já não importa, sem se sentir afogada na garganta.
Não havia tragédia, não havia redenção, nem a asfixia do quase.
E no fim, quando se despediram sem rancor, sem alívio, perceberam que o pior não era o fim, e a certeza de nunca ter começado.
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Autor:
Anna Gonçalves (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 17 de agosto de 2025 17:02
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 9
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Comentários2
bom poema, parabens
Boa noite!
Realmente, tem sentimentos que, aparentemente, são pra sempre e no final percebe- se que sequer existiram.
Bonito o teu poema.
Meus parabéns, meu abraço!
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