De longe esperava o peso,
daquela ressaca moral,
aquela areia movediça da culpa,
o lento afundar do peito.
Mas no fim... Nada veio .
Cada gesto foi completo,
cada segundo desejado.
Corte anatômico limpo,
sem hesitação na lâmina.
E depois? Em...
Só silêncio.
Pensou em desfecho,
em palavras redondas
[Como aquelas em filmes e novelas]
que dessem sentido ao já sentido.
Mas não.
O ato já foi o sentido.
E o murros em ponta de faca,
ferradura enferrujada,
história previsível.
Melhor virar a página
com os dedos intactos e limpos.
O recomeço não é um mito,
é o instante em que a faca,
antes cravada no ar,
repousa sobre a mesa
e você simplesmente
segue em frente...
Por sua vez, não sentiria o peso do insignificante como um inseto morto na soleira da porta, algo que se pisa sem querer, sem remorso, mas que deixa uma mancha.
E assim seguir... Com seu silêncio cheio de buracos e ideias,
Com suas palavras não ditas e que já não importa, sem se sentir afogada na garganta.
Não havia tragédia, não havia redenção, nem a asfixia do quase.
E no fim, quando se despediram sem rancor, sem alívio, perceberam que o pior não era o fim, e sim, a certeza de nunca ter começado e acontecido.