Valor da Página em Branco

Nalva Melo

 

 

Durante um longo período,  

descartei folhas de papel em branco  

como quem elimina o excedente.  

Eram numerosas,  

arquivadas em gavetas,  

alocadas em recantos,  

aparentemente supérfluas.  

Sem deliberação,  

descartava algumas,  

convicta de sua inutilidade.

 

Até que, em determinada ocasião,  

ao redigir uma narrativa —  

daquelas que emergem com veemência  

e exigem espaço —  

faltavam escassos versos para o desfecho.  

E, precisamente naquele ápice criativo,  

constatei a ausência de papel.  

Nenhuma folha disponível.  

Nenhum caderno acessível.  

Nenhuma alternativa viável.

 

A impossibilidade de prosseguir  

levou-me a ressignificar o vazio.  

Aquelas páginas outrora negligenciadas  

revelaram-se insubstituíveis.  

Eram substrato fértil,  

ambiente silencioso,  

pronto para acolher ideias,  

emoções,  

universos inteiros.

 

Naquele instante,  

compreendi que o que se mostra trivial  

pode, em verdade, ser essencial.  

Que o excedente de hoje  

pode constituir o recurso vital de amanhã.  

E que uma folha em branco  

jam

ais é mero papel —  

é potência latente.

  • Autor: Nalva Melo (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 17 de agosto de 2025 11:23
  • Comentário do autor sobre o poema: Sou Nalva Melo, escritora movida pelas pequenas grandes descobertas do cotidiano. O poema "O Valor da Página em Branco" nasceu de um instante simples — a falta de papel — que revelou o quanto o vazio pode ser fértil. Escrevo para transformar o comum em poesia e dar voz ao que muitas vezes passa despercebido.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 10
Comentários +

Comentários1

  • Shmuel

    Gostei deste olhar sobre o papel em branco. E nele você antecedeu a poesia. A vida do artista é assim! Se vemos uma árvore ou uma pedra, já antecipamos, o entalhe, a escultura.
    Abraços,

    • Nalva Melo

      "Olá Shmuel!

      Fico grata por ter gostado.

      Obrigada."

      • Shmuel

        Abracos



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