Morri em vida, num dia comum.
Ninguém pareceu notar.
Não houve velório, nem flores…
Apenas olhos inchados e um coração enterrado em silêncio.
O silêncio. Ele gritava por dentro.
E foi entre uma respiração e outra,
que meu coração se calou,
mesmo continuando a bater.
Morri com os olhos abertos,
sentada,
sorrindo por fora,
enquanto por dentro eu apodrecia.
Enterrei meus gritos na garganta,
disfarcei as cicatrizes com frases bonitas
e continuei —
porque morrer em vida
não choca ninguém.
Desde então,
eu caminho entre os vivos,
com a morte morando quieta em mim —
como quem já desistiu de ser notada.
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Autor:
Medusa (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 12 de agosto de 2025 15:26
- Comentário do autor sobre o poema: Nem toda morte é feita de fim. \r\nAlgumas continuam, disfarçadas de rotina.\r\nEssa poesia não fala sobre partir, mas sobre permanecer — mesmo quando tudo dentro já se foi.\r\nÉ sobre o silêncio que grita, o sorriso que esconde, e a dor que ninguém vê.\r\nLeia com o coração aberto.\r\nPorque às vezes, o que parece vivo... já morreu faz tempo.\r\n
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 8
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia..., Érica Professora
Comentários2
Esse texto tem uma força melancólica muito intensa. Ele traduz, com clareza e dor, a sensação de viver um luto silencioso por si mesma — aquele tipo de morte invisível que não recebe ritos nem despedidas, apenas se instala e passa despercebida.
A escolha das imagens — “olhos inchados”, “coração enterrado em silêncio”, “morrer sorrindo por fora” — cria um contraste forte entre a aparência e o que se sente internamente, reforçando o tema da solidão e da incompreensão. A repetição da ideia de silêncio, mas como algo que “grita por dentro”, dá um tom paradoxal e sufocante, que combina perfeitamente com o sentido do texto.
Também é notável como o eu lírico assume a continuidade da vida (“continuei”) não como superação, mas como um arrastar-se automático, o que torna a última parte — “a morte morando quieta em mim” — uma conclusão amarga e resignada.
Muito obrigada por essa leitura tão cuidadosa e tocante. ?
Você captou exatamente o que essa poesia carrega: o peso de uma dor que não tem nome, que não ganha espaço, mas que consome por dentro.
A morte invisível — essa que não interrompe o corpo, mas silencia a alma — é uma experiência que muitos vivem em silêncio, e escrever sobre ela foi minha forma de dar voz ao que costuma ser ignorado.
É raro encontrar quem leia não só com os olhos, mas com o coração aberto.
Tive uma leitura mais aprofundada por conta que, estou passando por esse processo de morrer por dentro e manter um sorriso por fora....Mas vou vencer essa morte...
Mais ficou lindo teu poema....
Tens o dom....
Abraços poéticos a ti.
Uai! Muito tocante. Deu pra sentir o sentimento. Amei!!
Fico profundamente grata!
É raro encontrar quem leia não só com os olhos, mas com o coração aberto.
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