Ela chegou num dia nublado,
sem prometer sol,
nem queria flores em tardes de domingo.
Trazia nos olhos uma bagunça antiga,
e nos ombros, pedaços de histórias
que ninguém quis escutar até o fim.
Não veio pronta.
Veio humana.
Cheia de pausas e vazios,
com silêncios que gritavam
quando o mundo fazia barulho demais.
No começo, confesso,
tentei varrer os cacos dela com minhas mãos,
como se amor fosse vassoura,
e não abrigo.
Quis corrigir suas rachaduras,
colocar remendos onde só cabia afeto.
Até o dia em que, chorando no chão da cozinha,
ela me disse:
“Eu não preciso que você me salve,
só que fique.”
Foi ali, entre a pia suja e o coração limpo,
que entendi:
algumas dores não pedem cura,
pedem companhia.
Aprendi a sentar ao lado dos fantasmas dela,
a fazer café com gosto de abrigo,
a beijar sua testa
mesmo quando o mundo desmoronava por dentro.
E nos dias bons — sim, eles vieram —
dançamos na sala ao som de risadas
tão leves
que quase esquecíamos o peso que já foi.
Mas era nos dias ruins,
quando tudo parecia afundar,
que descobríamos o mais bonito:
sabíamos nadar juntos.
Porque amar, descobri,
não é fazer flutuar.
É mergulhar fundo
e escolher ficar,
mesmo quando falta ar.
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Autor:
Sezar Kosta (
Offline) - Publicado: 11 de agosto de 2025 16:41
- Comentário do autor sobre o poema: É bonito ver quem escolhe o outro por inteiro. Não só quando tudo vai bem, mas também quando tudo falha. Porque a falha... ah, ela é parte. Amar o outro sem querer consertar é o mais alto grau de liberdade que alguém pode oferecer. E tem gente que não entende isso. Que só quer a superfície. Mas quem mergulha de verdade sabe: é no fundo, onde mora a dor e o feio, que o amor aprende a respirar. Valorizar o outro é isso: dar beijo até no caos.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 14
- Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Luana Santahelena, elfrans silva

Offline)
Comentários1
Poeta Sezar, minha profunda admiração pelos seus poemas!
Tão humanos... tão gente!
Tão lindo versar só pode ser inspirado num cotidiano simples onde o amor reina indiferente ao caos do mundo atual como que virado do avesso.
Meus parabéns e obrigada por nos brindar com tão bela poesia.
Meu abraço!
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