O PESO DO DOCE

L. R. Ramos

O pote fechado

pesa na mesa de madeira rachada.

O lacre guarda a promessa

do que derrete na boca,

o cheiro doce

mascara o azedo de longe.

 

Dizem que sustenta até o fim do mês

se usado com moderação.

Quando sobra,

faltou menos.

 

Houve tempo

de pão molhado em vinho,

sal contado grão a grão,

açúcar medido

na ponta da faca.

 

Hoje:

creme de avelã

na colher polida

que reflete um rosto rachado pelo sol

e uma mosca pousa onde não devia.

 

O açúcar afaga a língua,

como domingo,

enquanto o estômago lembra

da terra que levanta poeira.

 

Se a conta não fecha,

muda-se a forma da conta.

Outros estudos silenciam.

 

Quem pesa o pote

mede fortuna.

O peso é do vidro,

não do que alimenta.

 

O pano sobre a mesa

guarda as migalhas de ontem,

preserva evidências

ou esconde o que não convém.

 

O pote, enfim aberto,

circula devagar.

 

Alguns juram que basta.

Outros lambem a colher.

 

 

  • Autor: L. R. Ramos (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 9 de agosto de 2025 08:58
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 2
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