O pote fechado
pesa na mesa de madeira rachada.
O lacre guarda a promessa
do que derrete na boca,
o cheiro doce
mascara o azedo de longe.
Dizem que sustenta até o fim do mês
se usado com moderação.
Quando sobra,
faltou menos.
Houve tempo
de pão molhado em vinho,
sal contado grão a grão,
açúcar medido
na ponta da faca.
Hoje:
creme de avelã
na colher polida
que reflete um rosto rachado pelo sol
e uma mosca pousa onde não devia.
O açúcar afaga a língua,
como domingo,
enquanto o estômago lembra
da terra que levanta poeira.
Se a conta não fecha,
muda-se a forma da conta.
Outros estudos silenciam.
Quem pesa o pote
mede fortuna.
O peso é do vidro,
não do que alimenta.
O pano sobre a mesa
guarda as migalhas de ontem,
preserva evidências
ou esconde o que não convém.
O pote, enfim aberto,
circula devagar.
Alguns juram que basta.
Outros lambem a colher.