Gente que é gente

Anna Gonçalves

Calçada é ponto de encontro.

Na rua, quem monta a banca

é também quem carrega o país nas costas.

É mãe que madruga,

é pai que empurra carrinho,

é gente que não tem vitrine

mas exibe coragem na trilha do dia.

 

Feira não é só comércio, é cerimônia popular.

A mesa de plástico é altar

onde o suor vira sustento

e o riso vira resistência.

 

Ali, se cozinha esperança em óleo quente,

se tempera a conversa com farinha,

se vende o que a cidade esquece

a gentileza no olho no olho,

o favor sem preço,

a história contada no meio do barulho. 

 

E não é romantização não 

é a realidade suada.

É cultura que ninguém aplaude de pé,

mas todo mundo consome de boca cheia.

 

Porque comida de rua não tem lá seu glamour não,

mas tem raiz.

É o prato feito da luta,

sempre servido no vapor do agora,

com talher de papel e gosto de verdade.

 

Enquanto o asfalto engole gente

e o concreto tenta calar vozes, a feira levanta.

Toda semana.

Sem desculpa.

Sem feriado.

Com dignidade exposta ao sol, feito fruta madura.

 

E quem passa, mesmo de longe, sente.

Ali tem mais Brasil

do que em muito palácio,

onde o luxo é silêncio e o povo é espaço.

 

Onde o ouro nas paredes

esconde a ausência do pão 

enquanto a feira, no grito,

faz revolução com a mão.

  • Autor: Anna Gonçalves (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 5 de agosto de 2025 23:07
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 8
  • Usuários favoritos deste poema: JT., Edla Marinho
Comentários +

Comentários2

  • JT.

    Ficou mais que mimo a inspiração.
    Boa noite menina.
    JC

  • Edla Marinho

    Que maravilha de narrativa da verdadeira vida da gente que realmente é gente! Ficou boa m demais , tempero perfeito para a degustação do leitor que gosta de uma boa prosa poética, meus parabéns!
    Meu abraço!

    • Anna Gonçalves

      Muitíssimo obrigada! Fico feliz que você gostou! Isso realmente retrata a vida do brasileiro que é gente! Mesmo com o caos cotidiano sempre estamos sorrindo e espalhando cumplicidade. Gratidão, Edla. Abraços ??



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