Calçada é ponto de encontro.
Na rua, quem monta a banca
é também quem carrega o país nas costas.
É mãe que madruga,
é pai que empurra carrinho,
é gente que não tem vitrine
mas exibe coragem na trilha do dia.
Feira não é só comércio, é cerimônia popular.
A mesa de plástico é altar
onde o suor vira sustento
e o riso vira resistência.
Ali, se cozinha esperança em óleo quente,
se tempera a conversa com farinha,
se vende o que a cidade esquece
a gentileza no olho no olho,
o favor sem preço,
a história contada no meio do barulho.
E não é romantização não
é a realidade suada.
É cultura que ninguém aplaude de pé,
mas todo mundo consome de boca cheia.
Porque comida de rua não tem lá seu glamour não,
mas tem raiz.
É o prato feito da luta,
sempre servido no vapor do agora,
com talher de papel e gosto de verdade.
Enquanto o asfalto engole gente
e o concreto tenta calar vozes, a feira levanta.
Toda semana.
Sem desculpa.
Sem feriado.
Com dignidade exposta ao sol, feito fruta madura.
E quem passa, mesmo de longe, sente.
Ali tem mais Brasil
do que em muito palácio,
onde o luxo é silêncio e o povo é espaço.
Onde o ouro nas paredes
esconde a ausência do pão
enquanto a feira, no grito,
faz revolução com a mão.
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Autor:
Anna Gonçalves (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 5 de agosto de 2025 23:07
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 8
- Usuários favoritos deste poema: JT., Edla Marinho
Comentários2
Ficou mais que mimo a inspiração.
Boa noite menina.
JC
Muito obrigada, JC.
Que maravilha de narrativa da verdadeira vida da gente que realmente é gente! Ficou boa m demais , tempero perfeito para a degustação do leitor que gosta de uma boa prosa poética, meus parabéns!
Meu abraço!
Muitíssimo obrigada! Fico feliz que você gostou! Isso realmente retrata a vida do brasileiro que é gente! Mesmo com o caos cotidiano sempre estamos sorrindo e espalhando cumplicidade. Gratidão, Edla. Abraços ??
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