Calçada é ponto de encontro.
Na rua, quem monta a banca
é também quem carrega o país nas costas.
É mãe que madruga,
é pai que empurra carrinho,
é gente que não tem vitrine
mas exibe coragem na trilha do dia.
Feira não é só comércio, é cerimônia popular.
A mesa de plástico é altar
onde o suor vira sustento
e o riso vira resistência.
Ali, se cozinha esperança em óleo quente,
se tempera a conversa com farinha,
se vende o que a cidade esquece
a gentileza no olho no olho,
o favor sem preço,
a história contada no meio do barulho.
E não é romantização não
é a realidade suada.
É cultura que ninguém aplaude de pé,
mas todo mundo consome de boca cheia.
Porque comida de rua não tem lá seu glamour não,
mas tem raiz.
É o prato feito da luta,
sempre servido no vapor do agora,
com talher de papel e gosto de verdade.
Enquanto o asfalto engole gente
e o concreto tenta calar vozes, a feira levanta.
Toda semana.
Sem desculpa.
Sem feriado.
Com dignidade exposta ao sol, feito fruta madura.
E quem passa, mesmo de longe, sente.
Ali tem mais Brasil
do que em muito palácio,
onde o luxo é silêncio e o povo é espaço.
Onde o ouro nas paredes
esconde a ausência do pão
enquanto a feira, no grito,
faz revolução com a mão.