você contou rindo,
da viagem com ele,
do restaurante beira de estrada,
da coxinha que era a última
e ele comeu.
e eu também ri.
meio seco.
com um gole de angústia mal digerida.
não foi pela coxinha.
nem pela história.
foi por tudo o que ela carrega.
foi porque ele já te viu com sono
no banco do carona.
já dividiu silêncio com você na estrada.
já teve teu corpo deitado em outro lugar do mundo
que agora carrega teu cheiro
e não tem nada meu.
foi porque
por um instante
você se lembrou de um gosto com afeto.
e eu não tava lá.
foi ali que meu peito afundou um pouco,
só um pouquinho.
o suficiente pra perder o brilho no olhar
sem querer te fazer culpa.
mas você viu.
e doeu saber que doeu em mim.
mas doeu.
e tá tudo bem.
não porque não machuca,
mas porque eu escolho ficar
mesmo com o peito mordido
pelos fantasmas que vieram antes de mim.
-
Autor:
Willie Stchaikovski (
Offline)
- Publicado: 5 de agosto de 2025 08:46
- Comentário do autor sobre o poema: É, amigos, é difícil lidar com o passado. Ainda mais quando o passado não é o seu... Você ouve histórias inocentes, às vezes envolvendo pessoas, viagens, momentos que ela guardou com carinho. Não é como se ela quisesse te contar pra te machucar, muito pelo contrário, ela tava compartilhando algumas das experiências que ela teve, mas que não foi com você. E isso foi o suficiente pra um nó na garganta, sorrir sem graça e ela perceber. Ela percebeu que me machucou, mas eu não queria que ela se sentisse culpada, afinal, ela não tem culpa. Pode parecer bizarro ficar assim após ouvir uma história de um ex-amor, mas não é pelo ex-amor. É por tudo o que essa história representou, é pela intimidade, pela decisão de viajar juntos (algo que nunca fizemos até então por falta de oportunidade, estamos há 4 meses juntos), é sobre olhar pra ela cansada no banco de passageiro no carro, é sobre decidirem parar em um restaurante de estrada, que é uma das coisas favoritas dela durante a viagem, e compartilhar um café da manhã. Eu não me importo com quantas pessoas ela ficou, eu não me importo quantos ela beijou ou deitou ao lado, eu realmente não me importo. Eu me importo por coisas que ela viveu sem mim, me importo por sorrisos que nunca cheguei a ver, me importo pelo cheiro dela que ficou em lugares que eu nunca vou passar. Eu a amo, e por agora isso é a minha única certeza. Certeza que eu quero essa mulher pra vida, do meu lado, acordando todos os dias comigo. Ela foi meu maior presente, ela é meu milagre favorito, isso não resta dúvidas.
- Categoria: Triste
- Visualizações: 4
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.