Tem dias que a cidade fica estranhamente quieta.
As ruas, antes tão cheias de pressa e buzinas, parecem ter tirado folga. O vento sopra sem esbarrar em ninguém, como se estivesse perdido. E eu, caminhando por calçadas que não me reconhecem, me vejo tão vazio quanto elas.
É engraçado — ou triste — como a gente se parece com os lugares. Hoje, por exemplo, eu sou uma rua sem passos, uma esquina sem conversa, uma praça sem crianças. O silêncio de fora encontra eco aqui dentro.
Não é solidão barulhenta, daquelas que gritam falta. É uma ausência que apenas está. Sem drama. Só oco.
Olho para as janelas apagadas e me pergunto quantas delas também carregam alguém sentindo o mesmo. Talvez alguém olhando pra rua e me vendo passar como quem vê um fantasma. Talvez ninguém.
Mas sigo andando. Porque até ruas vazias, uma hora ou outra, recebem movimento. E talvez eu
também.
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Autor:
Luiz Beatriz (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 2 de agosto de 2025 10:26
- Categoria: Triste
- Visualizações: 6
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