Luiz Beatriz

Vazio

Tem dias que a cidade fica estranhamente quieta.

As ruas, antes tão cheias de pressa e buzinas, parecem ter tirado folga. O vento sopra sem esbarrar em ninguém, como se estivesse perdido. E eu, caminhando por calçadas que não me reconhecem, me vejo tão vazio quanto elas.

 

É engraçado — ou triste — como a gente se parece com os lugares. Hoje, por exemplo, eu sou uma rua sem passos, uma esquina sem conversa, uma praça sem crianças. O silêncio de fora encontra eco aqui dentro.

Não é solidão barulhenta, daquelas que gritam falta. É uma ausência que apenas está. Sem drama. Só oco.

 

Olho para as janelas apagadas e me pergunto quantas delas também carregam alguém sentindo o mesmo. Talvez alguém olhando pra rua e me vendo passar como quem vê um fantasma. Talvez ninguém.

 

Mas sigo andando. Porque até ruas vazias, uma hora ou outra, recebem movimento. E talvez eu

também.