Há um espaço que ninguém vê —
entre as mãos que se tocam sem pressa,
um sopro inaudível —
quando olhares se escutam em silêncio.
Não são promessas sussurradas à noite,
nem a efervescência dos começos,
mas a presença que persiste
como orvalho que se agarra nas folhas,
mesmo quando o sol ameaça secá-lo.
Cuidar é um verbo sutil,
fincando raízes onde o tempo hesita.
É regar o outro com a ausência de urgência,
dar sem medir,
como o céu oferece sombra às árvores
sem esperar aplausos da terra.
Amar é se repetir sem ser igual,
investir na delicadeza invisível,
acreditar, mesmo quando o amanhecer é cinza
e a alma vacila na colheita.
Porque a felicidade —
essa flor rara entre gestos —
não é encontrada: é erguida
com tijolos de constância
e cimento da vulnerabilidade.
Nasce na pausa que acolhe,
no gesto que não exige,
no perdão oferecido antes do pedido.
Não é estática:
é dança entre incertezas e intenções,
um fio invisível que brilha
quando esticado por vontades que escolhem,
todos os dias,
não soltar.
Assim, neste ofício de cultivar o invisível,
quem ama com cuidado
descobre que a realização
não mora no futuro,
mas se esconde — discreta e inteira —
em cada agora que se entrega por completo.
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Autor:
Sezar Kosta (
Offline)
- Publicado: 1 de agosto de 2025 15:33
- Comentário do autor sobre o poema: O poema destaca a essência de um amor profundo e silencioso, onde o verdadeiro significado reside na constância e na vulnerabilidade. As metáforas de cuidados e colheitas ilustram a ideia de que o amor é um cultivo diário, que floresce não em grandiosidade, mas nas pequenas ações e na presença genuína. Essa profunda conexão entre os corações é uma dança delicada, que se fortalece na escolha de estarem juntos, mesmo nas incertezas.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 15
- Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Luana Santahelena, Elfrans Silva, Spell mesclados
Comentários2
Belo poema. Que o Jardim invisível possa enxergar nem que for por um instante o seu Amor. Boa tarde poeta.
Sezar, este poema é um sopro maduro sobre o amor: longe do fogo dos começos, ele fala da ternura que permanece. É o tipo de texto que não grita, mas deixa marcas — como os pés descalços no barro molhado de um jardim secreto.
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