Sezar Kosta

O JARDIM INVISÍVEL ENTRE DOIS CORAÇÕES

Há um espaço que ninguém vê —

entre as mãos que se tocam sem pressa,

um sopro inaudível —

quando olhares se escutam em silêncio.

 

Não são promessas sussurradas à noite,

nem a efervescência dos começos,

mas a presença que persiste

como orvalho que se agarra nas folhas,

mesmo quando o sol ameaça secá-lo.

 

Cuidar é um verbo sutil,

fincando raízes onde o tempo hesita.

É regar o outro com a ausência de urgência,

dar sem medir,

como o céu oferece sombra às árvores

sem esperar aplausos da terra.

 

Amar é se repetir sem ser igual,

investir na delicadeza invisível,

acreditar, mesmo quando o amanhecer é cinza

e a alma vacila na colheita.

 

Porque a felicidade —

essa flor rara entre gestos —

não é encontrada: é erguida

com tijolos de constância

e cimento da vulnerabilidade.

 

Nasce na pausa que acolhe,

no gesto que não exige,

no perdão oferecido antes do pedido.

 

Não é estática:

é dança entre incertezas e intenções,

um fio invisível que brilha

quando esticado por vontades que escolhem,

todos os dias,

não soltar.

 

Assim, neste ofício de cultivar o invisível,

quem ama com cuidado

descobre que a realização

não mora no futuro,

mas se esconde — discreta e inteira —

em cada agora que se entrega por completo.