Há um espaço que ninguém vê —
entre as mãos que se tocam sem pressa,
um sopro inaudível —
quando olhares se escutam em silêncio.
Não são promessas sussurradas à noite,
nem a efervescência dos começos,
mas a presença que persiste
como orvalho que se agarra nas folhas,
mesmo quando o sol ameaça secá-lo.
Cuidar é um verbo sutil,
fincando raízes onde o tempo hesita.
É regar o outro com a ausência de urgência,
dar sem medir,
como o céu oferece sombra às árvores
sem esperar aplausos da terra.
Amar é se repetir sem ser igual,
investir na delicadeza invisível,
acreditar, mesmo quando o amanhecer é cinza
e a alma vacila na colheita.
Porque a felicidade —
essa flor rara entre gestos —
não é encontrada: é erguida
com tijolos de constância
e cimento da vulnerabilidade.
Nasce na pausa que acolhe,
no gesto que não exige,
no perdão oferecido antes do pedido.
Não é estática:
é dança entre incertezas e intenções,
um fio invisível que brilha
quando esticado por vontades que escolhem,
todos os dias,
não soltar.
Assim, neste ofício de cultivar o invisível,
quem ama com cuidado
descobre que a realização
não mora no futuro,
mas se esconde — discreta e inteira —
em cada agora que se entrega por completo.