Entre Sócrates e o Surto

Luana Santahelena

Já fui

pólvora com fósforo na mão.

Bastava um olhar torto,

e eu acendia incêndios com a língua.

 

Hoje, dizem que amadureci.

Virei quase um monge.

 

Respiro.

Um, dois, três...

Visualizo Buda tomando um chá.

Quatro, cinco...

Lembro que Epicteto me aconselhou

a não sofrer por aquilo que não controlo.

 

No sete, a sobrancelha já treme.

No nove, a voz engasga.

 

No dez...

eu grito.

Mas com propriedade.

 

Uma fúria com tese,

argumentos alinhados,

sarcasmo elegante,

e pitadas de Nietzsche

dissolvidas no tom de voz.

 

Rodo a baiana,

mas com referências.

 

A iluminação, aprendi,

não é silêncio constante,

mas saber quando

até Buda precisaria de um bom berro.

 

Afinal, tudo flui.

 

Até o autocontrole.

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 27 de julho de 2025 10:55
  • Comentário do autor sobre o poema: Já fui o caos em pessoa, reagindo sem pensar e explodindo com facilidade. A maturidade? Ah, ela me transformou em quase um monge zen, mestre do autocontrole... Quase. Porque, na prática, quando a raiva chega, eu conto até dez, respiro fundo e... a explosão acontece: gritos, xingamentos, chiliques e a famosa 'rodada na baiana'.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 15
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta
Comentários +

Comentários1

  • Sezar Kosta

    Minha cara Luana, que delícia de poema, um espelho afiado da nossa contraditória humanidade! Você traduziu com maestria essa dança insana entre a pólvora e a monja, entre o surto e o Sócrates que a gente teima em ser.

    É a vida real, não é mesmo? A gente respira, visualiza o Buda zen, lembra de Epicteto para não sofrer pelo que não controla... Mas a sobrancelha treme, a voz engasga, e no dez, a gente grita. E que bom que grita com propriedade, com fúria que tem tese e sarcasmo elegante. Porque, como você bem disse, a verdadeira iluminação não é silêncio o tempo todo. É saber a hora de soltar um bom berro, com referências e tudo. Afinal, a vida flui, e o autocontrole também tem seus dias de folga. Adorei essa sua honestidade que abraça a loucura e a sabedoria com a mesma paixão.



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.