Já fui
pólvora com fósforo na mão.
Bastava um olhar torto,
e eu acendia incêndios com a língua.
Hoje, dizem que amadureci.
Virei quase um monge.
Respiro.
Um, dois, três...
Visualizo Buda tomando um chá.
Quatro, cinco...
Lembro que Epicteto me aconselhou
a não sofrer por aquilo que não controlo.
No sete, a sobrancelha já treme.
No nove, a voz engasga.
No dez...
eu grito.
Mas com propriedade.
Uma fúria com tese,
argumentos alinhados,
sarcasmo elegante,
e pitadas de Nietzsche
dissolvidas no tom de voz.
Rodo a baiana,
mas com referências.
A iluminação, aprendi,
não é silêncio constante,
mas saber quando
até Buda precisaria de um bom berro.
Afinal, tudo flui.
Até o autocontrole.