Luana Santahelena

Entre Sócrates e o Surto

Já fui

pólvora com fósforo na mão.

Bastava um olhar torto,

e eu acendia incêndios com a língua.

 

Hoje, dizem que amadureci.

Virei quase um monge.

 

Respiro.

Um, dois, três...

Visualizo Buda tomando um chá.

Quatro, cinco...

Lembro que Epicteto me aconselhou

a não sofrer por aquilo que não controlo.

 

No sete, a sobrancelha já treme.

No nove, a voz engasga.

 

No dez...

eu grito.

Mas com propriedade.

 

Uma fúria com tese,

argumentos alinhados,

sarcasmo elegante,

e pitadas de Nietzsche

dissolvidas no tom de voz.

 

Rodo a baiana,

mas com referências.

 

A iluminação, aprendi,

não é silêncio constante,

mas saber quando

até Buda precisaria de um bom berro.

 

Afinal, tudo flui.

 

Até o autocontrole.