O que não vi em você

Luana Santahelena

Quanto tempo deixei

nas gavetas do sonho,

quanta vida escapou

sem deixar bilhete.

É melhor não voltar lá.

 

Achava que lia o mundo

como quem decifra mapas no escuro —

mas flutuava,

sem norte,

sem céu.

 

Hoje, vejo o que não via:

quem sabe menos

às vezes enxerga mais.

Meus olhos, cheios de certezas,

eram cegos.

 

Fugia dos conselhos

como quem pula cercas

num campo aberto.

Queria correr solto,

num mundo feito à mão.

Só ouvia a minha voz —

e a tua ausência

vestida de presença.

 

Agora, meus passos

não sabem onde pousar.

Meus dias

têm o gosto seco do eco.

Não vivo —

apenas ando.

 

Pensei que sabia tudo.

Mas no fim,

nunca soube

quem você era.

Nem quem eu fui

ao teu lado.

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 23 de julho de 2025 22:54
  • Comentário do autor sobre o poema: Às vezes, a certeza que carregamos nos olhos é o que mais nos impede de ver. Fugimos dos alertas, inventamos mundos onde tudo parece seguro, e só percebemos a verdade quando ela já se desfez. O eco da ausência revela tudo aquilo que fingimos não notar. E então, caminhamos — não em busca do outro, mas de nós mesmos.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 26
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena
Comentários +

Comentários2

  • Sergio Neves

    SERGIO NEVES - ...minha amiga, mui bela e pra lá de sensível essa tua poesia a dizer dessas coisas -de sentimentos- que estamos sempre a deixar passar sem nos darmos conta de toda a sua importância nas horas acontecidas...,...é como sempre diz o Fernandinho, simpático e sábio carteiro aqui da minha região: -"...só damos valor às coisas quando não as temos mais..",...é mais ou menos por aí... /// Meu carinho, menina poeta.

  • LEIDE FREITAS

    Bonito poema e excelente reflexão.
    Boa Noite!



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